CRÔNICA DO COTIDIANO DE UM PROFESSOR - A LIÇÃO QUE VEM DA TERRA!
Era uma manhã de sol tímido, em um destes sábados que sempre ia, voluntariamente, à escola em que era diretor, para regrar a horta, pois era fim de semana e cumpria com amor essa missão. Um manhãzinha que prometia um bom calor mais tarde, quando vi minha filha, então com três anos, perdida no meio de um canteiro de repolhos. Os pés pequenos afundavam na terra úmida, as mãozinhas tentavam abraçar as folhas largas, e os olhos brilhavam com a descoberta de que comida não nasce em prateleiras de supermercado. Naquela imagem singela de duas décadas atrás, que guardo como um tesouro, estava resumida a essência do que sempre defendi: a horta como sala de aula, a terra como professora.
Nas escolas onde atuei como diretor, tanto na rede municipal quanto na
estadual, a horta não era um projeto, era um compromisso. Hoje, vejo meus
colegas cuidando e ensinando tão bem utilizando os recursos da horta que ainda está
lá, atravessando as décadas. Ensina-se matemática medindo canteiros, língua
portuguesa ao redigir instruções de plantio, ciências observando o milagre de
uma semente brotar. Mas, acima de tudo, ensina-se a vida. Alunos que lidam com
a terra aprendem paciência (o rabanete não cresce no ritmo da internet),
responsabilidade (regar não era opcional) e gratidão (colher o que se planta é
uma das alegrias mais antigas da humanidade).
E além de tudo, o propóstio cristalino é sempre promover uma alimentação
saudável. Essa é a cereja do bolo. Crianças que torcem o nariz para legumes
devoram saladas feitas com "o nosso alface", "a nossa
cenoura". A merenda escolar ganha outro sabor quando parte dela vem dos
canteiros que eles mesmos ajudam cultivar. Isso é educação ambiental,
nutricional e afetiva, tudo misturado como uma boa adubagem que vem ali dos
currais das fazendas da região.
Hoje, quando vejo escolas urbanas substituindo canteiros por cimento,
fico pensando no que perdemos. A tecnologia avança, sim, mas o contato com a
terra permanece como uma necessidade humana básica. Minha filha, agora adulta,
ainda lembra do repolho que era quase do seu tamanho. E eu lembro de cada aluno
que descobriu, entre sementes e regadores, que o mundo também se aprende com as
mãos sujas de terra e a testa suada devido ao sol escaldante, dando valor
também ao labor dos pais e conhecidos. Essa é a educação em que acredito e que
transforma vidas!
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