A EFEMERIDADE DA VIDA
(Na foto, meu tio e meu pai que já se foram...)
Vivemos como se fôssemos imortais.
Corremos, acumulamos, planejamos, adiamos, como se o tempo fosse um rio que
jamais secasse, esquecendo da efemeridade da vida. Mas ele escorre, silencioso,
entre os dedos, levando consigo instantes que jamais retornarão. E nós,
distraídos em nossa ânsia pelo amanhã, mal percebemos que o hoje já se esvaiu,
como areia na ampulheta do destino.
A finitude é a única certeza que
carregamos desde o primeiro suspiro. E, no entanto, agimos como se fôssemos
eternos. Construímos impérios de concreto, amealhamos riquezas, colecionamos
títulos, como se pudéssemos levá-los conosco quando a "indesejada das
gentes" bater à nossa porta. Mas ela virá. Sem aviso, sem clemência, sem
negociar. E então, o que restará?
É certo que morremos a cada dia,
especialmente quando o tempo voraz consome nossos anos sem piedade, quando os
cabelos perdem sua melanina e se apressam em pratear. Mas, acima de tudo,
sabemos que, enquanto a vida não conclui sua obra, devemos deixar a morte no
canto que lhe cabe, bem distante, porque ainda há chão sob nossos pés, e por
ele vale o esforço de seguir. O comboio deve avançar até seu destino.
Afinal, não se trata de ignorar a
morte, mas de não permitir que seu espectro roube o brilho do agora. Enquanto
há sol, que se caminhe. Enquanto há voz, que se cante. Enquanto há mãos, que se
construa. A vida não espera, e nós tampouco devemos esperar por ela.
O que importa, no fim, não é quanto
tempo nos foi dado, mas o que fizemos com ele. E isso, só nós podemos
decidir, enquanto o relógio ainda corre.
Não serão os muros que erguemos, nem
os bens que acumulamos, mas as sementes que plantamos. O amor que doamos, a
sabedoria que compartilhamos, a bondade que espalhamos como um perfume que
permanece mesmo depois que a flor seca. Essas são as verdadeiras obras que nos
eternizam.
A vida é um espetáculo único. Não há
ensaio, não há segunda chance. Cada ato, cada gesto, cada palavra é
irrepetível. Por isso, não basta apenas viver, é preciso viver com capricho, com
entrega, com a alma aberta ao milagre de existir. Não há tempo para mediocridades,
para rancores estéreis, para vaidades vazias.
A morte não é o oposto da vida, mas
parte dela. E é justamente por sabermos que um dia partiremos que a existência
ganha seu verdadeiro valor. Portanto, não tema o fim. Tema, sim, não ter vivido
de verdade. Plante amor, cultive a justiça, regue a esperança. Essas são as
únicas construções que resistem ao tempo.
No fim, não seremos lembrados por
quanto durou nossa jornada, mas por quanto ela significou. E isso, caro leitor,
está em nossas mãos. Viva enquanto ainda há tempo.
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