A CEGUEIRA DO DESLUMBRAMENTO

15:32 José Luiz 3 Comments


De repente, ele chega como se pisasse em nuvens. Nem se atenta às pessoas em sua volta. Parece encantado com alguma situação. As pessoas o cumprimentam, sequer se dá ao trabalho de respondê-las. Causa estranheza este comportamento tão afetado. Na verdade, ele está acometido de um mal: o malfadado deslumbramento. No sentido literal da palavra, ao pé da letra, deslumbramento quer dizer da situação em que a vista fica turva, justamente pelo excesso de luz, causando vertigem, uma fuga da realidade. Por outro lado, também pode definir o estado de espírito por quem se deixa tocar pelo encantamento, por se sentir muito fascinado por algo, ou por si mesmo. Tem gente que, ao viver uma situação privilegiada, ao obter êxito em alguma área da vida, no trabalho, na relação amorosa, no campo da política, é atingida pelo deslumbramento. Acham-se seres iluminados, especiais, privilegiados por terem alcançado algum patamar. Assim, sentem-se exclusivos, dignos de uma plateia arrebatada que o presenteia com os mais efusivos aplausos. De fato, é uma cegueira que não permite enxergar a própria realidade. Detém egos inflados, inchados, imensos.

Creiam: é preciso cuidado para não sermos atingidos pelo deslumbre, pela arrogância, que é o sentimento daqueles que se julgam superiores e olham para os outros com um jeito todo peculiar de presunção, de soberba, de quem acredita estar num trono dourado. Atingir algum sucesso em qualquer área da vida só nos deixa com mais responsabilidade. Como profetizam os autores clássicos da literatura mundial, para os deslumbrados há sempre um caminho reverso: ascensão e queda. Do mesmo jeito que sobe, desce. E a queda geralmente é drástica e costuma conduzir algumas destas pessoas a nunca mais conseguirem se recuperar da queda. É natural que, no início de alguma projeção social, a pessoa se sinta meio assim, deslumbrada, feliz. Mas, esta sensação deve ser passageira, uma espécie de assimilação do estado de espírito. A partir de um tempo, a pessoa precisa cair na real e sentir que a vida prossegue e sempre há alguém num estágio superior no que diz respeito à realização pessoal ou profissional.

A pessoa deslumbrada adora contar seus feitos, suas vantagens, os louros de uma vida abastada. Vai fazer a viagem, fica a repetir os eventos, aquilo que comprou. A pessoa simples conta se perguntarem, sem ficar expondo detalhes e rompantes. Observe que a pessoa deslumbrada logo que é promovida a algum cargo, trata diferente os colegas, muda o modo de se vestir, às vezes muda até o jeito de falar. Exige um tratamento diferenciado porque julga estar acima dos outros pelo cargo que passou a ocupar.

Do mesmo jeito, também não podemos ficar deslumbrados pelos outros a ponto de pensarmos que o outro é melhor, mais preparado, superior. Tem deslumbrado que vive a bajular os superiores para conseguir benefícios ou ser digno da amizade deles. E fica contando vantagens por ser amigo do chefe ou de alguém badalado, ou detentor de um cargo de visibilidade, e se contenta com as migalhas que o ser admirado deixa cair. Assim, a pessoa deslumbrada está mais preocupada em ter do que ser. Adora dizer que é isso, que é aquilo. Que é chefe, gerente, tal e coisa. E se perder uma destas funções, a pessoa deixa de ser o que é? O importante é a essência, aquilo que você carrega independente do cargo ou função. Rótulos passam, a sua maior marca é você. Todos vivemos em pequenos universos dentro de um magnífico universo. Somos pó das estrelas. Apesar de únicos e irrepetíveis, somos nada perante a grandeza do cosmos. O deslumbramento pode ser uma armadilha que o prende e o faz se sentir com o ego inflado. Reconhecer o seu valor é fundamental, saber que temos nossa importância nos dá a garantia de poder realizar mais e melhor, produzir boas coisas, viver com intensidade. Porém, é fundamental também saber que todos têm suas riquezas, suas particularidades. O deslumbrado está preocupado em mostrar o que aparenta ser sem nunca apreciar o que o outro tem a dizer, a apresentar, pois, reprimidos por seu próprio medo em enxergar o que são verdadeiramente, não possuem olhar desprovido de arrogância, clareado pela luz da humildade. Ajuste as velas, mas confie que o tempo pode melhorar, no lugar de simplesmente ficar reclamando do vento. Seja confiante, porém sem ficar deslumbrado e se deixar cegar por uma realidade difusa e sem fundamentos.

É isso aí!

 


3 comentários:

Unknown disse...

Perfeito. Uma definição precisa. Parece que estou vendo certas pessoas enquanto vou lendo.

Elizet disse...

Excelente!
Ninguém é melhor que ninguém! Independente de cargos ou situação financeira! Muitos precisam ler o seu artigo! Parabéns!

Elizet disse...

Excelente!
Ninguém é melhor que ninguém! Independente de cargos ou situação financeira! Muitos precisam ler o seu artigo! Parabéns!