O ESPORTE QUE NOS UNE E O VÔLEI NOSSO DE TODO SÁBADO (CRÔNICA)
Há algo de mágico no esporte que vai além do placar, dos títulos, da disputa acirrada. Ele começa como um desafio físico, um teste de limites, mas, com o tempo, se transforma em algo mais profundo: um ritual de amizade, um espaço onde as diferenças se dissolvem e o que resta é o puro prazer de estar ali, suando, rindo, vivendo.
Sempre
me atraiu a disputa, o desafio e a entrega pelos bons resultados. Ao longo da
vida, pratiquei basquete, handebol, vôlei, futsal, pingue-pongue e até tênis.
Cada um com sua magia, seu ritmo, sua lição.
Lembro-me
dos tempos em que a competitividade falava mais alto. O futsal era minha arena;
a meta do goleiro, minha trincheira. Havia glórias, troféus modestos, aplausos
da comunidade. Mas o tempo, esse juiz implacável, vai nos mostrando que nem
tudo precisa ser uma batalha. E foi assim que, deixando para trás as luvas e os
pênaltis dramáticos – até mesmo por conta do peso dos anos –, encontrei no
vôlei de sábado uma nova forma de felicidade.
Como
levantador, adorava jogadas inusitadas, aquelas que enganavam o time
adversário, deixando-os atônitos. A grande maioria dos que jogavam comigo eram
alunos ou ex-alunos, o que aumentava ainda mais meu contentamento. Estava entre
os meus.
Não
era a Superliga, claro. Era algo melhor.
Era um
encontro de almas dispostas a jogar, suar e, acima de tudo, rir. Heteros, gays,
trans – todos sob a mesma rede, sem preconceitos, sem olhares tortos.
Policiais, professores, trabalhadores rurais, fazendeiros, servidores públicos,
gente de toda cor, de todo biotipo físico, ali tinham encontro marcado com a
alegria e o bem-estar. A única regra rígida? Respeito. Nada de jogar descalço,
nada de ficar sem camisa, nada de palavrões ou ofensas. A não ser, é claro, os
nossos códigos secretos: “fruta que partiu”, “tomate cru”, “baralho”… E a tal
da “zorra”, que sempre rendia gargalhadas. Valia mais o suor e as boas
risadas.
Depois
da quadra, a festa, algumas vezes, continuava na minha casa. Refrigerantes
pagos pelo time perdedor, histórias exageradas de jogadas impossíveis. Não
importava quem tinha vencido. Importava que estávamos juntos.
Hoje,
o ombro reclama, a idade cobra seu preço. Mas o espírito ainda pulsa.
Adaptei-me com as caminhadas, o pingue-pongue. Porque o que fica não são apenas
os gols defendidos ou os levantamentos perfeitos, mas a memória afetiva de cada
sorriso, cada abraço, cada momento em que o esporte foi, antes de tudo, uma
celebração da vida.
E no
fim das contas, é isso que interessa. Não faz a menor diferença quantos pontos
marcamos, mas sim quantas alegrias dividimos. As risadas ainda ecoam até hoje e
me trazem saudade bonita. É o que faz tudo valer a pena.