CRÔNICA DO COTIDIANO DE UM PROFESSOR - UM CAMPO DE TERRA, UMA SAUDADE...
Ali, procurando uma foto antiga para ilustrar uma outra crônica, logo me deparo com uma imagem de um time de futebol da adolescência. Quatro décadas se interpõem entre o presente e aquele registro fotográfico, mas a emoção e a nostalgia resistem, intocáveis pelo tempo, e libertas pelo gatilho da lembrança. Naquele dia inesquecível, nosso time — um grupo de adolescentes destemidos — ingressou no torneio por acaso, após a desistência de um time da cidade vizinha. Contra todas as expectativas, erguemos a taça. Foi uma festa daquelas almas juvenis, um êxtase coletivo que raras vezes se repetiria.
A imagem que eterniza o instante,
porém, esconde uma dolorosa verdade: sete dos companheiros ali retratados já se
foram. O velho campo de futebol, onde o suor e a alegria se fundiam ao pó
vermelho da terra, também desapareceu. Em seu lugar, ergueram-se casas,
soterraram-se as marcas das traves e as linhas desenhadas a cal. Mas o terrão
sagrado segue intacto em nossa memória, palco de uma saga que o tempo não
apaga.
A passagem dos anos não extingue a
chama da nostalgia; antes, a aviva, alimentando a saudade e nos lembrando da
maravilha daquele instante. A conquista não foi apenas um triunfo esportivo —
foi a celebração de uma amizade ingênua, do companheirismo despretensioso, da
paixão pura pelo jogo, em uma época em que a vida ainda havia de ser
descoberta.
Na memória, reencontramos o cheiro da
terra batida, misturando-se ao suor de corpos cansados, o estalo seco da bola
no chão, os risos ecoando sob um sol escaldante de uma tarde sem pressa. São
lembranças que nos arrancam um sorriso e, ao mesmo tempo, nos confrontam com a
fugacidade da existência. Quarenta anos depois, a essência daquele momento
persiste, e a saudade — ora suave, ora cortante — ainda pulsa nestes corações
que um dia bateram mais forte sob o sol da juventude. Porque lembrar, sim, é viver duas
vezes.
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