CRÔNICA DO COTIDIANO DE UM PROFESSOR - UM CAMPO DE TERRA, UMA SAUDADE...

09:32 Professor José Luiz 0 Comments


Ali, procurando uma foto antiga para ilustrar uma outra crônica, logo me deparo com uma imagem de um time de futebol da adolescência. Quatro décadas se interpõem entre o presente e aquele registro fotográfico, mas a emoção e a nostalgia resistem, intocáveis pelo tempo, e libertas pelo gatilho da lembrança. Naquele dia inesquecível, nosso time — um grupo de adolescentes destemidos — ingressou no torneio por acaso, após a desistência de um time da cidade vizinha. Contra todas as expectativas, erguemos a taça. Foi uma festa daquelas almas juvenis, um êxtase coletivo que raras vezes se repetiria.

A imagem que eterniza o instante, porém, esconde uma dolorosa verdade: sete dos companheiros ali retratados já se foram. O velho campo de futebol, onde o suor e a alegria se fundiam ao pó vermelho da terra, também desapareceu. Em seu lugar, ergueram-se casas, soterraram-se as marcas das traves e as linhas desenhadas a cal. Mas o terrão sagrado segue intacto em nossa memória, palco de uma saga que o tempo não apaga.

A passagem dos anos não extingue a chama da nostalgia; antes, a aviva, alimentando a saudade e nos lembrando da maravilha daquele instante. A conquista não foi apenas um triunfo esportivo — foi a celebração de uma amizade ingênua, do companheirismo despretensioso, da paixão pura pelo jogo, em uma época em que a vida ainda havia de ser descoberta.

Na memória, reencontramos o cheiro da terra batida, misturando-se ao suor de corpos cansados, o estalo seco da bola no chão, os risos ecoando sob um sol escaldante de uma tarde sem pressa. São lembranças que nos arrancam um sorriso e, ao mesmo tempo, nos confrontam com a fugacidade da existência. Quarenta anos depois, a essência daquele momento persiste, e a saudade — ora suave, ora cortante — ainda pulsa nestes corações que um dia bateram mais forte sob o sol da juventude. Porque lembrar, sim, é viver duas vezes.

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