LIVROS
Encontrei-me com um amigo que, do alto de seus quase sessenta anos, disse-me com alegria e brilho no olhar que havia lido meu livro na íntegra e se emocionado em algumas passagens. Coisas como o biscoito frito, o broto de abóbora e o rádio AM que, segundo meu amigo, também faziam parte de sua história. De repente, ele me disse: “foi o primeiro livro que li na vida!”
Fiquei meio assim desconcertado, tentando não transparecer. Ele repetiu a frase e agradeceu. Trocamos uns dois dedos de prosa e logo se foi. Deixou-me ali pensativo e feliz, muito feliz... Eu, um protótipo de escritor que nunca se arvorou a ser nada além de si mesmo, tinha vivido esse contentamento. Há um diálogo mudo e cheio de riquezas escondidas entre o autor e o leitor. O que passa nas cabeças dos que me leem, dos que me dão a honra dessa companhia silenciosa? Que cenas constroem, quais as matizes enveredadas nas mentes das pessoas? Como será que imaginam os aromas, as nuances, as formas de tudo o que repartimos através de nossos textos?
Escrever, para mim, é uma necessidade visceral. Aqui divido minhas impressões de mundo, meus guardados, meus achados, meus descaminhos, minhas esperanças. Não tenho a intenção de aplicar lições de moral, nem dar conselhos, muitos menos impor aprendizados com meus textos. Vivi e vivo, com olhar de observador que aprecia as menores belezas e os grandes passos da aventura humana na terra. Tornar-se eterno é fazer-se inesquecível para aqueles com quem a gente convive. Somos seres da terra. Quando planto uma árvore, já plantei tantas, não dou a elas a oportunidade da vida, mas o contrário ocorre comigo. Elas me deixam viver. Quanto aos filhos, tive dois e emprego muito de mim em cada um deles que se formam pelas experiências acumuladas, pelas personalidades que possuem, mas irão carregar meus genes e meus exemplos vida afora. Ao deixar livros publicados, transfiro um pouco de mim àqueles que me dão o privilégio da convivência. Muito obrigado!
É isso aí!
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