Zé Luiz
NUVENS
Juro que tento.
Faço jeito, crio meios, tudo faço para esboçar um sorriso, para manter-me
motivado, para ser mais poeta, para fazer viva a energia pulsante no peito.
Mas, há dias – raríssimos dias – em que o poeta pede licença e deixa surgir um sujeito
menos carregado de esperança, mais casmurro e introspectivo. Quando assim
estou, logo percebem e dizem sentir falta do outro cara que adormece, do homem
que sorri sem motivos e carrega na alma um tanto de criança.
Gosto mesmo de
ser assim, pois assim eu sou. Meio bobo, iludido, fé em tudo, em todos. Quando
me quedo de desencanto, vou chafurdando meus canteiros até encontrar as brotas
que poderão vingar em flores. E, de repente, ressurge o que ainda sonha, o que
ainda espera. Críticos dizem que gente assim é raridade ou sequer existe. Por
mais que a vida venha com a ação do endurecimento, não me deixo atingir;
escapo, feito Neo, das rajadas do desalento e apatia.
Quero que os
amigos que amam o poeta façam sempre jeito de trazê-lo à tona. Cutuquem,
comovam, chamem a atenção. Não permitam esvaziar em mim o que levo de melhor.
Gritem pelo menino do embornal de pano, invoquem por aquele que gosta da
textura da terra e do cheiro do biscoito frito, resgatem aquele que é
deslumbrado pela família e pelos amigos. Nunca me cansarei de falar disso. É
minha vida.
Deixem que eu
morra quando tiver de morrer, nunca antes do tempo. Viver sem o aconchego dos
sonhos, das ilusões que prestam sentido à vida, não é viver. Viver é um risco,
doce risco dos que se encorajam nessa aventura. Que as nuvens brancas sejam
negras, pois é delas que brota a chuva, que renasce a vida.
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