Zé Luiz

16:42 José Luiz 0 Comments


NUVENS

Juro que tento. Faço jeito, crio meios, tudo faço para esboçar um sorriso, para manter-me motivado, para ser mais poeta, para fazer viva a energia pulsante no peito. Mas, há dias – raríssimos dias – em que o poeta pede licença e deixa surgir um sujeito menos carregado de esperança, mais casmurro e introspectivo. Quando assim estou, logo percebem e dizem sentir falta do outro cara que adormece, do homem que sorri sem motivos e carrega na alma um tanto de criança.

Gosto mesmo de ser assim, pois assim eu sou. Meio bobo, iludido, fé em tudo, em todos. Quando me quedo de desencanto, vou chafurdando meus canteiros até encontrar as brotas que poderão vingar em flores. E, de repente, ressurge o que ainda sonha, o que ainda espera. Críticos dizem que gente assim é raridade ou sequer existe. Por mais que a vida venha com a ação do endurecimento, não me deixo atingir; escapo, feito Neo, das rajadas do desalento e apatia.

Quero que os amigos que amam o poeta façam sempre jeito de trazê-lo à tona. Cutuquem, comovam, chamem a atenção. Não permitam esvaziar em mim o que levo de melhor. Gritem pelo menino do embornal de pano, invoquem por aquele que gosta da textura da terra e do cheiro do biscoito frito, resgatem aquele que é deslumbrado pela família e pelos amigos. Nunca me cansarei de falar disso. É minha vida.

Deixem que eu morra quando tiver de morrer, nunca antes do tempo. Viver sem o aconchego dos sonhos, das ilusões que prestam sentido à vida, não é viver. Viver é um risco, doce risco dos que se encorajam nessa aventura. Que as nuvens brancas sejam negras, pois é delas que brota a chuva, que renasce a vida.

É isso aí!

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