Zé Luiz

16:08 José Luiz 0 Comments



SETEMBRO

Nem sei explicar. Entra setembro, sinto uma saudade de tempos idos. Sem saudosismo exagerado, esse mês chega carregado de lembranças das coisas que me fizeram muito do que sou. Imagino-me criança, tomando banho de chuva, deitado no calçamento da pracinha, aproveitando a água que descia morna pelo calor acumulado no cimento. Volto num tempo em que ia ao córrego escondido da minha mãe e jogava futebol no campo de terra, logo em seguida, para esconder as marcas esbranquiçadas que a água do ribeirão deixava na pele. Sinto nítido o gosto das frutinhas do cerrado, do guaraná Maçã tomado natural (sem gelo) por um buraquinho na tampa feito com prego 22 por 42.
 
Costumo buscar nos recônditos da mente as melhores lembranças de uma infância feliz, repleta, cheia de alvissareiras alegrias. Lembro também das surras motivadas pelas traquinagens de um menino que não parava quieto. Ainda o pé de mexerica, a tarefa de alimentar os porcos no fundo do quintal, a bendita salada de frutas na escola que marcava os dias melhores. E havia a aventura de andar na frente da bicicleta de carga, habilmente dirigida pelo irmão mais velho que tinha o dom admirável de confeccionar tatus e caminhões de madeira. Vontade de sentir no paladar o delicioso biscoito frito que nos aguardava bem cedinho ao som das músicas que sobressaíam aos chiados da rádio AM. O cheiro do café, o embornal de pano, o tênis Conga limpinho e um beijo de boa aula permanecem grudados, vivos, inteiros.

Infância mais rica não poderia desejar. Não me lembro de ter sentido falta de nada. Tinha tudo o que um menino de família grande poderia ter. A liberdade comedida, a companhia protetiva e amorosa, o sentimento de um colo que nunca se desgarrou. Ah, se todos os meses fossem setembro.

É isso aí!

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