Zé Luiz
SETEMBRO
Nem sei explicar. Entra setembro, sinto
uma saudade de tempos idos. Sem saudosismo exagerado, esse mês chega carregado
de lembranças das coisas que me fizeram muito do que sou. Imagino-me criança, tomando
banho de chuva, deitado no calçamento da pracinha, aproveitando a água que
descia morna pelo calor acumulado no cimento. Volto num tempo em que ia ao
córrego escondido da minha mãe e jogava futebol no campo de terra, logo em
seguida, para esconder as marcas esbranquiçadas que a água do ribeirão deixava
na pele. Sinto nítido o gosto das frutinhas do cerrado, do guaraná Maçã tomado
natural (sem gelo) por um buraquinho na tampa feito com prego 22 por 42.
Costumo buscar nos
recônditos da mente as melhores lembranças de uma infância feliz, repleta,
cheia de alvissareiras alegrias. Lembro também das surras motivadas pelas
traquinagens de um menino que não parava quieto. Ainda o pé de mexerica, a
tarefa de alimentar os porcos no fundo do quintal, a bendita salada de frutas
na escola que marcava os dias melhores. E havia a aventura de andar na frente
da bicicleta de carga, habilmente dirigida pelo irmão mais velho que tinha o
dom admirável de confeccionar tatus e caminhões de madeira. Vontade de sentir
no paladar o delicioso biscoito frito que nos aguardava bem cedinho ao som das
músicas que sobressaíam aos chiados da rádio AM. O cheiro do café, o embornal
de pano, o tênis Conga limpinho e um beijo de boa aula permanecem grudados,
vivos, inteiros.
Infância mais
rica não poderia desejar. Não me lembro de ter sentido falta de nada. Tinha
tudo o que um menino de família grande poderia ter. A liberdade comedida, a companhia
protetiva e amorosa, o sentimento de um colo que nunca se desgarrou. Ah, se
todos os meses fossem setembro.
É isso aí!
0 comentários:
Postar um comentário