Zé Luiz
EDUCAÇÃO
Ele chegou
cabisbaixo. Desviando o olhar, meio como se quisesse que ninguém notasse sua
presença. Mas, a circunstância exigia uma outra postura. Ele deveria encarar a
dura realidade de enfrentar o mundo. Saíra de uma cidade pequena, no sofrido
sertão brasileiro. Atravessara o país na esperança de um lugar ao sol, fugindo
do sol inclemente. Chegando naquela metrópole, em meio aos arranha-céus e o
turbilhão de automóveis, emparedado pelo som das buzinas e pela mistura de
tantas gentes, sentiu-se frágil, pequeno, quase microscópico.
Agora, precisava
se apresentar. Sou Jesuíno, filho de Maria da Piedade e João Batista, vim à
procura de um trabalho e de uma chance de viver melhor, cansei de passar fome,
de ver a criação morrendo de sede, de ver meu povo definhando. Disseram que
aqui é terra de oportunidades. Atendendo ao pedido de levantar a cabeça, olhou
para frente, num olhar meio distante, e respondeu que queria crescer, ter
família, ter um lar.
O tempo passou e,
junto com a labuta e o suor do rosto cansado de Jesuíno, as coisas foram se
ajeitando. Trabalhou muito mesmo, conseguiu construir sua casinha, arranjou
esposa e teve filhos. Até carro tem na garagem. Mas, sabe qual seu maior
orgulho hoje? O filho mais velho acaba de entrar na faculdade. Que satisfação!
Ele, que se sentia ninguém perante tudo e todos, tinha um dos seus cursando o
ensino superior. E, melhor, não teria de pagar mensalidade, pois o danado do
menino conseguira a vaga numa universidade federal. Ah, quem diria! Jesuíno,
vindo lá das agruras do sertão, será pai de doutor, desses que cura as dores da
alma. E, segundo Jesuíno, iria ajudar muita gente ainda nessa vida.
Jesuíno, de tanto
entusiasmo, voltou pra escola. Possuía rudimentos de leitura, agora já consegue
até escrever cartas para seu povo. Outro dia, narrou com contentamento as
conquistas de seu primeiro filho. Esse menino que entrou na faculdade deu um
tapa na mesa, mudou a história, não permitiu que os ranços de gerações que
sofreram na miséria fincasse raízes dentro de si. Quis virar o jogo. Tornou-se
influência - movido pelo amor e dedicação dos pais - para os irmãos, para os
parentes lá de longe, para todos os que o cercam. É o milagre da educação.
É isso aí!
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