Zé Luiz

11:10 José Luiz 0 Comments


EDUCAÇÃO

Ele chegou cabisbaixo. Desviando o olhar, meio como se quisesse que ninguém notasse sua presença. Mas, a circunstância exigia uma outra postura. Ele deveria encarar a dura realidade de enfrentar o mundo. Saíra de uma cidade pequena, no sofrido sertão brasileiro. Atravessara o país na esperança de um lugar ao sol, fugindo do sol inclemente. Chegando naquela metrópole, em meio aos arranha-céus e o turbilhão de automóveis, emparedado pelo som das buzinas e pela mistura de tantas gentes, sentiu-se frágil, pequeno, quase microscópico.
Agora, precisava se apresentar. Sou Jesuíno, filho de Maria da Piedade e João Batista, vim à procura de um trabalho e de uma chance de viver melhor, cansei de passar fome, de ver a criação morrendo de sede, de ver meu povo definhando. Disseram que aqui é terra de oportunidades. Atendendo ao pedido de levantar a cabeça, olhou para frente, num olhar meio distante, e respondeu que queria crescer, ter família, ter um lar.
O tempo passou e, junto com a labuta e o suor do rosto cansado de Jesuíno, as coisas foram se ajeitando. Trabalhou muito mesmo, conseguiu construir sua casinha, arranjou esposa e teve filhos. Até carro tem na garagem. Mas, sabe qual seu maior orgulho hoje? O filho mais velho acaba de entrar na faculdade. Que satisfação! Ele, que se sentia ninguém perante tudo e todos, tinha um dos seus cursando o ensino superior. E, melhor, não teria de pagar mensalidade, pois o danado do menino conseguira a vaga numa universidade federal. Ah, quem diria! Jesuíno, vindo lá das agruras do sertão, será pai de doutor, desses que cura as dores da alma. E, segundo Jesuíno, iria ajudar muita gente ainda nessa vida.
Jesuíno, de tanto entusiasmo, voltou pra escola. Possuía rudimentos de leitura, agora já consegue até escrever cartas para seu povo. Outro dia, narrou com contentamento as conquistas de seu primeiro filho. Esse menino que entrou na faculdade deu um tapa na mesa, mudou a história, não permitiu que os ranços de gerações que sofreram na miséria fincasse raízes dentro de si. Quis virar o jogo. Tornou-se influência - movido pelo amor e dedicação dos pais - para os irmãos, para os parentes lá de longe, para todos os que o cercam. É o milagre da educação.
É isso aí!

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