Zé Luiz

16:12 José Luiz 0 Comments


SACOLEJOS

Vinicius poetizou uma canção dizendo que “assim como o poeta só é grande se sofrer. Assim como viver sem ter amor não é viver.” O sofrimento que incomoda o peito do poeta é necessário e todo amor tem um pouco de tristeza. Os poetas precisam dela para converter em arte aquilo que é dor. Tentamos caminhar por mares bravios, atravessar lagoas cheias de jacarés com as bocas escancaradas, perpassar caminhos íngremes sem uma mínima cicatriz. Aviso aos navegantes desse barco chamado vida: “isso não te pertence”. As marcas são inevitáveis. Elas virão e servirão como sinais para não nos perdermos nas perdas.
Aqui estou a matutar de novo sobre a dor. É que ela é tão pungente e real que, volta e meia, o coração fica cheio de vontade de falar sobre. Tentamos criar um universo paralelo, particular, meio às sombras da caverna de Platão, mas, pelo bem da existência humana, a dor nos pega com um choque de realidade e tomamos tento para seguir em frente.
Para fazer parte desse intrincado jogo é preciso estar pronto para as intempéries, para os sacolejos, decepções e impactos que certamente seremos vitimados na trajetória. Brincar com a dor, tirar proveito dela, produzir a partir dela, ser melhor após a ação que ela desencadeia, é o jeito. Nem todos nos amam como julgamos merecedores e, muito menos, devotamos amor pleno a todos os que anseiam por isso. Somos falíveis, humanos. Até o Papa, o bispo argentino dos humildes, sabe (pressupomos) que o dogma da infalibidade é falível. A partir disso, é mais fácil aceitar nossa pequenez e, paradoxalmente, encontrar nosso lugar e nossa importância nesse mundo. 
É isso aí!

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