Zé Luiz
SACOLEJOS
Vinicius
poetizou uma canção dizendo que “assim como o poeta só é grande se sofrer.
Assim como viver sem ter amor não é viver.” O sofrimento que incomoda o peito
do poeta é necessário e todo amor tem um pouco de tristeza. Os poetas precisam
dela para converter em arte aquilo que é dor. Tentamos caminhar por mares
bravios, atravessar lagoas cheias de jacarés com as bocas escancaradas,
perpassar caminhos íngremes sem uma mínima cicatriz. Aviso aos navegantes desse
barco chamado vida: “isso não te pertence”. As marcas são inevitáveis. Elas
virão e servirão como sinais para não nos perdermos nas perdas.
Aqui estou a
matutar de novo sobre a dor. É que ela é tão pungente e real que, volta e meia,
o coração fica cheio de vontade de falar sobre. Tentamos criar um universo
paralelo, particular, meio às sombras da caverna de Platão, mas, pelo bem da
existência humana, a dor nos pega com um choque de realidade e tomamos tento
para seguir em frente.
Para fazer parte desse intrincado
jogo é preciso estar pronto para as intempéries, para os sacolejos, decepções e
impactos que certamente seremos vitimados na trajetória. Brincar com a dor,
tirar proveito dela, produzir a partir dela, ser melhor após a ação que ela
desencadeia, é o jeito. Nem todos nos amam como julgamos merecedores e, muito
menos, devotamos amor pleno a todos os que anseiam por isso. Somos falíveis,
humanos. Até o Papa, o bispo argentino dos humildes, sabe (pressupomos) que o
dogma da infalibidade é falível. A partir disso, é mais fácil aceitar nossa
pequenez e, paradoxalmente, encontrar nosso lugar e nossa importância nesse
mundo.
É isso aí!
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