Zé Luiz
ROMANTICAR
Vivemos em uma
era que o romantismo perde espaço para a sofreguidão, para a pressa e o desejo
de ver as intenções realizadas em prazos mínimos. Queremos as coisas para
ontem, considera-se perda de tempo dedicar um pouco mais de atenção e tentar burilar
com mais cuidado as relações. Não falo nem nessa questão de abrir portas ou outros
costumes que sempre estigmatizaram o romantismo. Não faço apologia ao machismo,
menos ainda à condição de submissão feminina. Falo da possibilidade do elogio,
da cumplicidade, da troca de olhares furtivos em meio às turbulências.
Os românticos
são tolos, diriam alguns. Choram fácil, riem fácil. Um dos poetas da nova
geração da MPB canta que o romântico é uma espécie em extinção. Talvez movido
pela sensibilidade peculiar aos artistas, Vander Lee tenha concluído que, a
partir das observações cotidianas, há uma escassez de gentileza, uma precariedade
na troca de afagos, tudo feito na base do afogadilho, sustentado no desespero cada
vez mais contrário à esperança.
Costumamos ser fartos
na crítica, na acidez de comentários doídos, e parcimoniosos nas palavras que
erguem, que fazem cócegas na alma. Seria bom se deixar guiar pelos compassos ritmados
- nem sempre - do coração, pela sintonia doce do afeto sincero num olhar de bicho
de pelúcia, destes brilhantes que fixam no rumo da gente, dedicando quase uma
admiração filial.
Romanticar é o
verbo. Um neologismo proposital, não roseano, mas carregado dos significados
amplos de um viver repleto de intenções saborosas, posto que vem encharcado de sentimentos
compreendidos pelos românticos, quase sempre só pelos românticos que vivem em
constante estado de poesia.
É isso aí!
0 comentários:
Postar um comentário