Zé Luiz
TUCANOS E ARARAS
Os pássaros se
achegam nas árvores urbanas como quem pede socorro. Não são invasores conforme
afirmam alguns. Vêm em busca do alimento que um dia deles usurparam. Ao mesmo
tempo em que é bonito ver o tucano e a arara visitando as proximidades de
nossas casas e pousando nas árvores das praças, por outro lado é melancólico
saber que estão ali porque não encontram guarida nos recantos que deveriam ser deles.
Os olhos enchem de uma boniteza que surpreende em meio à frieza do concreto e
do asfalto. No coração, uma ponta de sofrimento por saber que precisam correr
riscos entre as máquinas, prédios e pessoas para subsistir.
Poderia fazer
aqui um esboço de uma reflexão ecológica, mas vou me atrever a ponderar e
traçar um paralelo entre os pássaros e nossa própria existência. Triste não ter
para onde ir, onde buscar seu sustento, em quem amparar suas aspirações. Por
isso, o ser humano é um bicho social. Até para discordar, precisa de outro para
confrontá-lo. Sozinho, é inerte, é folha solta, desgarrada e, por vezes,
amarga.
A gente busca escorar nossos alicerces nas relações que travamos com o
mundo. Se preciso, vamos longe buscar apoio ou refrigério nas horas de
angústia. Buscamos no colo do outro, nas palavras que fazem reerguer, o sossego
para aquietar nossos espíritos. O pássaro vem de longe para saciar sua fome
física. Ali, mesmo em ambiente estranho, faz seus ruídos e cantos propagando ao
mundo sua (in)satisfação.
Nós, muitas vezes, temos a fonte para abastecer
nossas vidas ali do lado, e não viramos os olhos para enxergar o óbvio. Não é
preciso muito para tentar ser feliz. É preciso encontrar sentido nas coisas e
estabelecer uma predisposição para tal. Afinal, felicidade e tristeza não são
exclusividade de ninguém. Todos podem tê-las em abundância. Prefiro a primeira
opção.
É isso aí!
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