Zé Luiz
PERDAS
A dor pungente da
perda de um amigo, o sofrer na partida de um familiar, o adeus de uma
companheira é coisa para quem sente contar. De vez em quando sonho com pessoas
que se foram, mas se mantém vivinhas dentro de mim. Nos sonhos elas me dão
conselhos, colaboram em alguma atividade, tiram-me para bailar pelas ruas,
tomam chuva comigo, sorriem sempre. Não me povoam as lembranças as tristezas
vividas pela distância, mas sim as alegrias divididas. Não carrego remorsos, só
saudades que servem de pomada para curar as feridas do tempo.
Quando acordo,
a nostalgia, abrupta e delicada como sempre, vem rasgar o peito com suavidade. A
vontade de chorar deixa de ser vontade e dá lugar às lágrimas que brotam fortes
e reconfortantes. Aí, vem cristalina uma certeza: ainda é tempo de beijar os
que ficaram - que não são poucos. Aqueles que partiram deixaram suas marcas,
deixaram pistas preciosas, para que estejamos aptos a prosseguir na caminhada,
para não nos perdermos nas perdas, que são tantas. Seus matizes, tão ricos, e suas
contribuições, tão vastas, estão incrustrados no nosso jeito de falar, na forma
de agir, no tom de nossos pensamentos.
Somos os que
somos porque um dia eles e elas existiram. Não nos toca mais a tez, a voz. Toca-nos
agora, e para frente, as vozes que permaneceram, perenizaram na mente e que
ainda ouvimos com tanta nitidez. Impelem-nos a continuar bulindo com o mundo, a
manter firme o leme, a inserir-se na comitiva, sem ser boiada. Que eu acorde logo
para poder continuar sonhando, como um dia os poetas me ensinaram.
É isso aí!
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