José Luiz

17:09 José Luiz 0 Comments



Tempos Idos

Outro dia apareceu um tucano lá em casa. Era um tucano diferente, desses com bico menor e nem tão bonito. Fiquei apreciando aquele bicho degustando um mamão, sem a mínima preocupação com o entorno. Cheguei a tirar umas fotos, que de tão ruins logo apaguei. Aquele animal certamente ali estava porque sua área de origem já estava ocupada por outras plantações. A escassez das matas, que tiveram de ceder espaço para as lavouras, força esses exóticos animais a procurarem ambientes que ofertem alimento. Eles precisam viver. Logo, a ave bicuda bateu asas e foi procurar outro canto para saciar suas vontades.
Minha casa já teve fogão a lenha e cisterna na varanda. No fundo do quintal, laranjeira, abacateiro, mexericas e limoeiro. Sou de um tempo em que preferíamos o mato a uma rua de terra que nos levasse até a escola. Ali, acumulávamos gabirobas, pitangas, goiabinhas e outras delícias do cerrado no embornal de pano que minha mãe costurara para levar os parcos materiais escolares. Era um tempo feliz, em que se tinha pouco, mas abundava esperança e afeto.
Passei perto de um clube famoso aqui na cidade e me deparei com um arbusto repleto de frutinhas avermelhadas na calçada da frente. Era um pé de pitanga. Fui até lá e apanhei algumas para atiçar a memória dos aromas e sabores da infância. Senti-me menino de novo. Sai dali renovado para enfrentar os ditames de uma tarde atribulada. As pitangas, o fogão a lenha, o tucano, os abacates fizeram de mim um ser melhor.
Uma pessoa me disse que as crianças de hoje são infelizes por não terem tido essas experiências. Ledo engano. Cada geração com suas histórias e memórias. Eles, sim, que perguntam espantados como sobrevivíamos sem internet, sem WhatsApp, sem Facebook. Desenvolveram seu peculiar jeito de marcar espaço no mundo. Essa prosa cabe uma conversa à parte. Volto a falar disso logo, logo.
É isso aí!

0 comentários: