José Luiz
Tempos
Idos
Outro dia apareceu um tucano lá em casa. Era um tucano
diferente, desses com bico menor e nem tão bonito. Fiquei apreciando aquele
bicho degustando um mamão, sem a mínima preocupação com o entorno. Cheguei a
tirar umas fotos, que de tão ruins logo apaguei. Aquele animal certamente ali
estava porque sua área de origem já estava ocupada por outras plantações. A escassez
das matas, que tiveram de ceder espaço para as lavouras, força esses exóticos
animais a procurarem ambientes que ofertem alimento. Eles precisam viver. Logo,
a ave bicuda bateu asas e foi procurar outro canto para saciar suas vontades.
Minha casa já teve fogão a lenha e cisterna na varanda. No fundo do quintal, laranjeira,
abacateiro, mexericas e limoeiro. Sou de um tempo em que preferíamos o mato a
uma rua de terra que nos levasse até a escola. Ali, acumulávamos gabirobas,
pitangas, goiabinhas e outras delícias do cerrado no embornal de pano que minha
mãe costurara para levar os parcos materiais escolares. Era um tempo feliz, em
que se tinha pouco, mas abundava esperança e afeto.
Passei perto de um clube famoso aqui na cidade e me deparei
com um arbusto repleto de frutinhas avermelhadas na calçada da frente. Era um
pé de pitanga. Fui até lá e apanhei algumas para atiçar a memória dos aromas e
sabores da infância. Senti-me menino de novo. Sai dali renovado para enfrentar
os ditames de uma tarde atribulada. As pitangas, o fogão a lenha, o tucano, os
abacates fizeram de mim um ser melhor.
Uma pessoa me disse que as crianças de hoje são infelizes
por não terem tido essas experiências. Ledo engano. Cada geração com suas histórias
e memórias. Eles, sim, que perguntam espantados como sobrevivíamos sem
internet, sem WhatsApp, sem Facebook. Desenvolveram seu peculiar jeito de marcar
espaço no mundo. Essa prosa cabe uma conversa à parte. Volto a falar disso
logo, logo.
É isso aí!
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