José Luiz
A
RODA GIRA
Ando matutando muito sobre algumas coisas ultimamente. O tema
da morte nunca me atraiu muito, mas confesso que ela tem burilado meus
neurônios nos últimos tempos. A “indesejada das gentes” chega de forma tão
abrupta em alguns casos que provoca um impacto alucinante. Que ela vai chegar,
não resta dúvidas. Trata-se da única e inabalável certeza: tudo tem um fim.
Perdi uma grande amiga dia desses. Sua risada saborosa ainda ecoa na minha
mente e parece balançar as folhas daquelas árvores lá em frente de casa. É uma
saudade danada. Não é fácil compreender essa lógica da finitude. Minha amiga
estava prestes a se aposentar. Não pode usufruir da ociosidade produtiva que
certamente planejou. A morte chegou sem pedir licença. Onde havia esperança, brotou
a lágrima acompanhada de um desalento amargo.
É por isso que certas coisas não podem esperar para amanhã.
Por mais capaz que eu me permita achar, há sempre alguém prontinho para ocupar
o lugar na minha falta. É a dinâmica da vida. Roda gigante, roda pião. A roda
tem de girar, a fila tem de andar. Vivemos a adiar certas coisas que poderiam
começar ontem: uma amizade recuperada, um projeto de viagem, um desafio há
muito almejado, uma guinada na vida. Tem hora que vem uma vontade de ser
velhinho para poder dizer o que penso, com serenidade nas palavras, claro, mas
sem os entraves, censuras ou imposições do status
quo.
Minha amiga risonha me deixou várias lições, até mesmo na
despedida. A lembrança de suas posições firmes, temperadas com ternura, ensinou-me
a fazer companhia sempre com a verdade, com uma sinceridade que sabia se postar
concreta sem a frieza do concreto. Vivamos, então!
É isso aí!
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