José Luiz

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VIDA E ARTE
Ao completar 80 anos, o maior poeta brasileiro vivo, o insólito Ferreira Gullar, definiu com sobriedade cataclísmica o que é a arte e o que é a vida. O poeta, no alto de seus fartos cabelos brancos, amparado num físico esquelético adornado por uma senhora robustez intelectual, afirma que a arte é uma coisa imprevisível, é descoberta, é uma invenção da vida. Como todo poeta se diz sofredor, ele contrapõe e retruca que quem diz que fazer poesia é um sofrimento está mentindo, diz que é bom, mesmo quando se escreve sobre uma coisa sofrida. De alguma maneira, ele quer dizer que existe uma forma de prazer naqueles que fazem a opção pela amargura. Ele vai ainda mais longe ao dizer que a poesia transfigura as coisas, mesmo quando você está no abismo e que a arte existe porque, simplesmente, a vida não basta.
A vida não basta, pois o que verdadeiramente liberta é a arte. Ela faz transcender, ilumina e dá significação à passagem humana pelo planeta. Uma existência sem arte é apenas um balaio combalido cheio de fragmentos de vida desprovidos de sentido. Não há ser que não tenha sido tocado por alguma manifestação artística. Uma música que acaricia os ouvidos e a alma, uma tela que encanta os olhos, um escultura que acende o tato, uma dança que faz arrepiar: toda forma de arte é promotora e depositária da emoção. Preferível viver mergulhado nas lágrimas e risos que a arte proporciona que levar uma vida infértil, rasa, corrompida com a aridez do pessimismo.
É isso aí!

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