José Luiz

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Sombras e Memórias

“De gole em gole vou afogando minhas mágoas. Entrego-me às perdições para não me perder tanto. Escorrego em minhas lágrimas e tropeço nas próprias pernas. Em passos lânguidos vou tentando impor uma caminhada rumo a qualquer lugar. Com os cabelos escangalhados pelo vento que teima em me empurrar, ou me derrubar, apresso-me em chegar logo, pois a aflição já toma conta de todo o meu ser. Em meio às ruínas do passado, vou procurando construir, erguer paredes sobre os restos de demolições que se postam à minha frente. Às vezes, deparo-me com sombras e memórias de um tempo que deveria ser bom, mas a verdade é nua e cruel e não me deixa permanecer na ilusão. Assim, vivo na sordidez de não crer em mais nada, em não pensar no futuro, pois nem sei se o terei; em não perder tempo com conjecturas presunçosas que certamente nem virão a existir. Viver para mim é isso: morrer um pouco a cada dia.”

Ao ler este parágrafo inicial, creio que tiveram um susto e perguntaram o que está acontecendo com este colunista que há catorze anos insiste em postar palavras de positividade. Na verdade, leitores, procurei transcrever um pouco o universo, a dimensão particular dos que sofrem a dor da depressão, daqueles que veem o mundo sob o prisma da penumbra, sem cores nem formas bonitas. Ao observá-las, percebo claramente que estas pessoas precisam, tanto quanto o ar que respiram, de nosso abraço, de nosso afeto, mesmo que os reneguem. No fundo, clamam por socorro e pedem que não os abandonemos, que não os entreguemos à escuridão. Só o amor pode trazer de volta a luz aos olhos dos que perdem o apreço pela vida. Não desista de amá-los, mesmo que receba pedras, mesmo que, no auge da dor, ainda profiram palavras ácidas em flechas desencorajadoras. O seu amor é bálsamo que cura e alimenta, que retira das trevas e salva do infortúnio.

É isso aí!

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