José Luiz

10:14 José Luiz 1 Comments

JOÃO

Perdoem-me os amigos que carregam o nome de João, mas este era mesmo ruim de gênio. Vivia recluso, não gostava de companhia. Era um sujeito casmurro, destes que tinha uma resposta pronta para tudo. Via tudo com dúvidas e desconfiança. Não se aproximava, nem se deixava influenciar por nada e ninguém. Achava que por trás de todas as coisas sempre havia uma intenção escusa. Era visto como um sujeito amargo e antissocial. Sua família sofria com tanto desencanto. Gostava de gatos, vivia rodeado deles, pois acreditava que os animais eram melhores que os homens. O tempo passou e imprevistos naturais e irreversíveis andaram acontecendo na vida de João. No momento em que perdeu a mulher, muitos vizinhos e parentes se compadeceram e estiveram ao seu lado. Quando caiu doente e os filhos já estavam cuidando de suas vidas, longe dali, amigos, apesar de João não acreditar que eles existissem de fato, solidarizaram-se e deram todo o apoio que precisava: arranjaram médico, hospital e os cuidados de uma pessoa que se dispôs a ir diariamente a sua casa para ver seu estado de saúde. Os anos rodaram e João foi vendo que o ser humano não era tão desprezível quanto imaginava. Fez questão de enviar uma carta a todos os que o ajudaram nestes anos agradecendo cada instante vivido, por cada conforto recebido. Algum tempo depois, ele veio a falecer em sua cama simples, solitário, porém redimido com a espécie humana.

Acho que não precisamos ir tão longe assim para reconhecer que os bons podem ser maioria, que a perversidade existe mesmo, é inegável, e vem seguida da inveja e crueldade, porém o bem, apesar das controvérsias, teima em seguir na frente. É importante crer que o semelhante possui traços de bondade, antes de despejar toda sorte de desconfiança. Convém refletir e, de repente, mudar a postura porque vivemos numa simbiose sem volta: uns dependendo dos outros. É um ciclo inevitável.

É isso aí!