José Luiz

09:01 José Luiz 0 Comments


POESIA

"Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas. A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez, Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias. Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pala chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça: -Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia".

Nesta crônica micro, Carlos Drummond de Andrade faz-nos enxergar, sob um prisma insólito, um componente macro, essencial ao ser humano: a sensibilidade. A criança, no auge de sua inocência, ainda desprovida das malícias e desilusões do adultismo, soberano em suas ações sobre os menores, consegue vislumbrar a fantasia e o encantamento sobre as pessoas e a própria vida. Os poetas são diferentes por isso. Eles conseguem extrair de seu interior bobices e sentimentos próprios da infância. O melhor de nós mora na criança que um dia fomos. Podemos sair por aí seguindo os traços deixados pelos poetas, vendo poesia em todo canto, na conversa do boteco, na correria dos meninos, nos encontros e desencontros do trabalho, no futebol do domingo, na escola de nossos filhos.

Poeta é aquele que consegue enxergar uma flor em meio às pedras, que nunca prioriza o negativo somente, que espera ansioso a chegada da primavera, que admira o esplendor da lua cheia, que é grato pela existência. Você é poeta!

É isso aí!

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