José Luiz

09:38 José Luiz 0 Comments

GARI

Outro dia passei por uma rua erma e vi um homem magro, de cócoras, olhando para o nada. Corpo combalido pelo tempo, mas com os joelhos em dia, logo o reconheci. Fiquei pensando no que se passava pela sua cabeça repleta de fios brancos. Esse velho senhor foi um gari zeloso que tanto cuidou pela limpeza de nossas ruas. Lembro-me, na minha infância, de vê-lo arrastar um carrinho de mão recolhendo o lixo pela cidade; depois, arranjaram para ele uma carroça com uma égua trabalhadeira todo tanto; por último, antes de se aposentar, entregaram-lhe um trator, o famoso “cinquentinha”, que ele cuidava como se fosse seu tesouro maior. Ajeitava tudo bem direito para que o povo não ficasse sem seus prestimosos serviços.

Sem demérito aos grandes vultos, personalidades importantes que marcaram a história das cidades e do país, acho que gente assim também mereceria dar nome às ruas, praças e outros logradouros. Passaram pela vida fazendo o bem, limpando nossas “artérias’, deixando os ambientes melhores para se viver. Pessoas simples que, na sua singeleza, na maioria das vezes, sem se darem conta de seu relevante mister, fazem a diferença. Não são seres invisíveis que não mereçam a nossa atenção. Temos de dedicar um olhar carinhoso a estas pessoas, dar-lhes o devido valor. Nenhuma ferramenta de trabalho é mais valiosa que a outra, levando-se em consideração o bem que elas são capazes de propiciar. Contrariando o infeliz jornalista, cujo comentário sórdido vazou pelo áudio de uma rede de televisão, é de fato no alto de suas vassouras que os garis deixam seu recado: somos iguais na diferença. Nem melhores, nem piores, mas também importantes. Não se preocupam com quem suja as ruas, mas cumprem dignamente o seu papel: limpam-nas para que passemos.

Na proximidade de mais um Natal, repensemos nossos valores, reflitamos sobre a conduta que temos tido com relação ao outro, exerçamos a bondade sem exigir recompensa, nem devolutiva. Amemos na gratuidade, usufruindo o enternecimento e a doçura do amar, conforme nos ensina o principal aniversariante do mês.

É isso aí!

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