José Luiz

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TRISTEZA

Uma tristeza doída que dá quando parte um amigo. Destes que dão bronca, que se irritam, mas no final o acolhe com um abraço, um pedido de desculpas, uma palavra de reconciliação. Destes raros que não ficam perdendo tempo com rancores tolos, com raivas ressentidas, talvez porque já saibam da brevidade da vida. Destes que amam em excesso, que se entregam intensamente às relações, que vivem de forma apaixonada e irrestrita, sem comedimentos hipócritas; que deixam escapar amor pelo brilho dos olhos lacrimejados ao contar sobre as peripécias da filhinha, a cumplicidade da esposa, o exemplo impecável do pai. Digo que tem pessoas que deveriam ser “imorríveis” (perdão pela invencionice grotesca). Uma vida toda ainda para ser construída, e um fim trágico interrompe os sonhos, esfacela as ilusões, os projetos formados de uma família feliz.

Como diria o poeta, morrer é um chiste, uma piada sem graça, um porre. Você deixa para trás tanta coisa por fazer, e-mails sem responder, processos em andamento. Quem vai levar a pequena na escolinha? Quem vai cuidar de tudo na nossa ausência? São perguntas que não cabem mais respostas. A vida segue. O comboio não pode parar. Merecem cuidados os que ficam.

Vá em paz, meu amigo. Olhe por nós. Não gosto da palavra adeus, dá uma noção de ultimato, de distância final, de não pairar a idéia da próxima visita. Até qualquer dia, então. Que o Criador o acolha com carinho, pois carinhosamente lembraremos sempre de você.

É isso aí