José Luiz
TERMINALIDADE
Parece se tratar de algo meio paranóico, mas a impressão que se tem - meio turva, é verdade - é que tudo na vida conspira para o fim, para a morte. Vejam a ação das bactérias, dos fungos, das células doentes. Um escorpião que te ofende, um bicho pequeno que te pica, podem gerar problemas que acarretam infecções, levam a complicações graves no organismo. A mente que teima em querer a solidão, a tristeza, o fim. A própria ação do homem conduz a essa conclusão. Nas guerras, ganha quem mata mais. No convívio social, nota-se a incrível propensão para a violência, para o embate, para o conflito. Há um senso comum agressivo, pronto a atacar. O homem é um ser em constante aprendizado para a paz, numa mobilização interna muito grande contra seus instintos e fragilidades. Freud explica que existe uma intrincada pulsão de morte, que nos impele a uma finitude inevitável, posto que ela existe de fato. Ele diz ainda que sem essa energia, permaneceríamos travados, sem querer buscar algo além e que a finalidade da pulsão de morte é o nirvana, a ausência de angústia, a falta de sofrimento. É o que buscamos a todo o tempo. Há uma lógica perversa em tudo isso.
Tudo tem seu prazo de validade. Uma construção, um produto alimentício, uma vida. Tudo é passageiro, inconstante. Vivemos na mais pura mutação. Energia que vai e que vem. Somos aquilo que usufruímos da Terra e deixamos como legado para os outros. Partindo da premissa de que há uma terminalidade peremptória, determinante, é preciso então reconsiderar certos valores e conceitos. De que adianta ficar correndo tanto se o fim é categórico e intransferível? Todos chegaremos lá, pois é parte da caminhada alcançar o seu final. Enquanto caminhamos façamos do caminho um prazer sempre renovado, um percorrer suave feito de tropeços, adaptações, alegrias.
Neste limiar de nova década, ouso conclamá-los a esta jornada do auto-descobrimento. Conhecendo melhor seu universo pessoal, olhando com humildade para seu espelho interior, saberá compreender melhor este mundo alucinado.
É isso aí!
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