José Luiz
GRAÇA
Não considero muito positiva a atitude de gente sarcástica, pessoas que se escondem atrás de um gracejo, de uma piadinha sem graça para dizer o que pensam. Falam pondo os dentes à mostra para passar a impressão que estão “brincando”, mas na verdade libertam o fel em meio a sorrisos falsos. Gosto mais do jeito daqueles que procuram falar o que pensam de forma mais natural, com a devida compreensão de que pode haver um efeito pedagógico em suas palavras, algo que construa, não simplesmente faz brotar um balde de impropérios apenas para que o outro saiba aquilo que pensa, repleto de risinhos e olhares ferinos.
É bom levar a vida com leveza, tratar as relações com graça, produzir momentos risonhos, no entanto é importante ter cautela para que não estejamos utilizando alguém como escada para nossas piadinhas, diminuindo, desvalorizando as características ou qualidades dos outros e, em contrapartida, exaltando-nos em nossas virtudes. Aquela história de que “perde o amigo, mas não perde a piada”, é muito bacana na televisão e no circo. Aqui, na vida real, um amigo jamais poderá valer menos que uma piada. Se o ímpeto em proferir alguma pilhéria vier forte e, lá no fundo de sua consciência, perceber que a consequência será ofensiva, fique mudo, engula a vontade, supere esta volúpia em expor as pessoas a algum constrangimento. O que de fato ocorre é que, ao cometer este tipo de “brincadeira”, o sujeito satisfaz seus impulsos, o que lhe provoca prazer. Prazer fruto do desgosto alheio é perversão.
Por onde passarmos que permaneça latente o som de nossa voz e a força de nossas ações, provocando bons presságios, irradiando simpatia. É até saudável brincar com o outro, desde que isso não represente uma proposta de avacalhação. Ser bem humorado não significa que devamos fazer escárnio de outrem. Façamos graça sem arrancar, na delicadeza de golpes de boticão, a graça do outro.
É isso aí!
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