CRIANÇA

16:40 José Luiz 0 Comments


A criança que mora em mim tem hora que quer fugir. Fica um tanto quanto decepcionada com certas coisas e vai se afastando, se escondendo, diminuindo o tamanho, a singeleza e, até mesmo, a inocência. Até que chega um momento que começa a fazer tanta falta que chega doer. Ai, decido ir buscá-la. Resgato-a do esconderijo num cantinho da alma, onde quase nem chega a luz, e a convenço da necessidade premente de ressurgir e ocupar um lugar que é só seu. Vejo-a de longe. Esta encolhida, em posição fetal, pedindo aconchego e proteção. Esse menino que um dia correu de pés descalços em dias de chuva, que degustou todas as pitangas e gabirobas possíveis, que tomou tantos banhos de ribeirão, que nunca matou um passarinho e tinha como mania brincar em meio às arvores do fundo do quintal, lendo gibis e imaginando mundos distantes olhando para as nuvens, não pode sumir de jeito nenhum. É ele que me faz ser gente, que me mantém vivo e humano.

O pior problema é quando deixamos escapar por entre os dedos o que há de melhor em nós. Permitimos que se perca a criança que um dia fomos. E nessa perda, vamos nos perdendo. E vai-se o sorriso, a pureza de intenção, a vida descompromissada com o amanhã, onde viver o abraço do agora era o que mais importava. Deixar viva a criança nossa de cada dia não é ter postura ingênua e atitudes pueris. Mantê-la intensa é sinal claro de que ainda encontramos beleza nas mínimas coisas e alegria para continuar vivendo.

A criança precisa ser cuidada para que o adulto venha mais sereno, equilibrado e capaz de decidir o melhor. Uma criança amada, sem os exageros da superproteção, é sinônimo de um adulto mais feliz, com cargas traumáticas menos pesadas e com maior habilidade para lidar com as frustrações. E viva as crianças!

É isso aí!

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