Mãe

11:59 José Luiz 0 Comments




Ela chegava de mansinho, como quem não queria nada, alisava meus cabelos e pedia com afeto angelical para que fosse até a “venda” chamar o pai para almoçar. O cheiro se espalhava pela casa inteira. Depois da filharada se juntar toda em volta da mesa, ligava seu radinho e ouvia a voz carinhosa tão peculiar nos locutores de AM. Logo, às duas da tarde, todo mundo se ajuntava para ouvir a leitura de uma carta enviada por algum ouvinte que tinha uma bela história para repartir. Não foram raras as vezes que vi minha mãe secando as lágrimas, meio disfarçando, no avental branco que a acompanhava sempre.


Alegria era quando percebia a movimentação de que haveria biscoito frito. É... a vida é boa porque ainda tem biscoito frito! O café recém saído do fogo, fumegando e esparramando aroma para a vizinhança. Era o tempo de todo mundo se alegrar. E quando chovia, telhas comuns, dessas bem antigas, deixavam frestas o suficiente para vazar as goteiras, e, nas tempestades de granizo, as pedrinhas de gelo espatifavam no chão. Todos corriam para o quarto deles e ficávamos disputando um colo que certamente abrigaria o universo. O amor era palpável, tangível, dava para sentir a consistência, a textura.


Quando estudávamos fora e íamos passar o fim de semana em casa, ela, na despedida, entregava-nos um conjunto de moedas que havia juntado durante os dias da semana, dizendo que era para não passarmos vontade de comer algo. Formamos. Viramos homens e mulheres de bem. Pelo menos, tentamos muito ser tudo aquilo que um dia sonharam para nós. Minha mãe se foi cedo. Tinha pouco mais de sessenta. Mas, a intensidade do tempo em que tivemos o privilégio de tê-la conosco serviu para compreender a essência das palavras ternura, caridade e amor.


É isso aí!

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