Zé Luiz
OBRIGADO, MEU AMIGO!
A última vez que o vi, há poucas
semanas, foi sentado num banco de madeira, tomando aquela sagrada do fim de
tarde, no bar de meu pai, na esquina da praça. Estavam sorridentes e falavam
alto. Quando me viu, alargou ainda mais o sorriso e disse “está chegando o
professor.” Peguei em sua mão, pedi a benção a meu pai, troquei algumas
palavras e fui casa adentro. Sozinho, fiquei matutando como esse cara é
diferente. Um homem no vigor de seus sessenta e poucos anos, lidava diariamente
com cifras na casa dos milhões, melhor, dezenas de milhões e não abria mão de
estar com sua gente simples, sua maior riqueza.
Lembro-me, ainda criança, quando
chegaram por essas bandas, vindos do Estado de São Paulo, e com arrojo e a
força do trabalho, logo começaram a consolidar seus patrimônios. Escolheram
essa terra para viver e construírem suas histórias. Muitos trabalhadores, claro
que também à custa do suor e da própria dedicação, conseguiram comprar seus
primeiros veículos, construírem suas casinhas, motivados pela garantia do
trabalho que era ofertado por esse homem. Ele sabia que seu êxito de nada
valeria se as pessoas que cooperavam com a força de braços viris não tivessem
dignidade e qualidade de vida. Ele sentava-se com os seus colaboradores, bebia
e celebrava com eles como se fossem da família; o que para ele, de certa forma,
correspondia a uma realidade. Falava sobre tudo, principalmente dava conselhos
e opiniões. Com uma inteligência e perspicácia refinadas compreendia tantas
coisas.
Um dia, quando diretor de escola,
cheguei até ele e pedi uma oferta para uma quermesse que promoveríamos. Ele
falou, enfático, que ajudaria sob uma condição: ninguém precisava ficar sabendo
que ele havia doado qualquer coisa. Simplesmente, aceitei e agradeci. Essa
situação deve ter se repetido inúmeras vezes.
Era um homem de postura firme, muitas
vezes, reconhecido como rude e de personalidade forte. Mas, seu coração custava
caber no peito de tão grande. Justo, sabia reconhecer o valor de cada um.
Nesse momento em que escrevo essas
linhas, seu corpo é velado. Saí de lá a pouco, segurei uma lágrima teimosa até
agora. Ela cai. O livro já deixou escrito. Combateu o bom combate, jogou o jogo
como deveria ter jogado. Bruno Guidi parte sereno com a certeza do dever
cumprido. Assim... obrigado!
É isso aí!
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