Zé Luiz
XAROPE
Nada melhor que se sentir cuidado. Não
há quem não queira colo, carinho, atenção. Ele tinha oito anos. Corria,
brincava, até que um dia entristeceu. Ficou amoado, quieto, coisa que não
combinava com ele. A tristezinha tinha razão de ser. Começou uma tosse
reticente, uma falta de ar que incomodava e uma fraqueza natural dos que
padecem de algum perrengue na saúde. A mãe logo o levou ao médico. Detectou uma
quase pneumonia, provocada especialmente pela alergia intensa que sofria de
tudo. “Esse menino precisa tratar”, disse o médico em tom impositivo.
Lá foi a mãe, junto do pai, comprar
os remédios e, ainda por cima, preparar aquele xarope que a vizinha disse ser “tiro
e queda” para bronquite, cujos ingredientes incluíam ovo de pata, mel e agrião.
A mãe deitou o filho afetuosamente numa cama de colchão surrado, beijou a testa
febril do menino, deu outro beijo no peito e disse: “esse é pra sarar”. O filho
sorriu, virou-se e dormiu o melhor dos sonos, como há dias não o fazia.
No dia seguinte, já acordara com
fome, querendo pular e despejando abraços apressados na mãezinha. A mãe, consciente
que era, sabia que ainda não estava o garoto no seu inteiro vigor físico e
pediu para que sossegasse os ânimos e voltasse para cama. Ele, meio que
querendo desobedecer, deitou-se assim mesmo e tomou o café com manteiga de
galinha para amenizar a tosse; depois logo veio, acompanhado de um pão amassado
na frigideira, um copo de leite quentinho. Não demorou muito, estava
completamente restabelecido, curado pelos medicamentos dados pontualmente, pelo
milagroso xarope, mas, sobretudo, pela pomada do amor - por mais piegas que
possa parecer, a mais poderosa de todas.
É isso aí!
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