Zé Luiz
SAUDADES
Era menino. Sabia o sabor das
gabirobas, das pitangas e goiabinhas do cerrado. Conhecia o frescor das águas
turvas do ribeirão e me sujava no campo de terra para evitar a surra. Corria na
praça, tomava banho de chuva, chupava mexerica no fundo do quintal. Tudo foi
muito bom. Mas, a saudade da infância que mais dói é a lembrança de uma mãe
amorosa, inteira, pleno afeto exalando pelos poros, exposto em todas as
células. A tapioca, o biscoito frito, a cambuquira que pedia para apanhar, os
afagos, as risadas, as músicas cantadas em dueto.
Acordávamos ao
som do rádio. Zé Bettio, Eli Correia e tantos outros, cujas vozes no velho
radinho AM ainda ecoam no antigo guarda-roupa de nossas memórias. O acumulo de
meninos sobre a cama disputando um chamego nos cabelos. Tinha espaço e carinho
para todos. Ainda vivemos, de alguma forma, sobre aquela cama, sob a força
daqueles beijos e abraços que deram liga e que nos fazem unidos até hoje.
O cheiro do bolo assando, a surrada
máquina de costura que preparava nossos embornais de pano, o caminho para a
escola que fazíamos questão de alterar passando pela matinha que era apinhada
de frutas e sombras. Lá em casa, um cachorrinho manco, um mico teimoso e um
papagaio que nunca aprendia a falar. Um quadro pitoresco, colorido, que nunca sai
da gente. As dores, os sustos, os risos. As brincadeiras com a bola
improvisada, com o carrinho de sabugo, as canções inventadas, os gibis lidos
embaixo do pé de abacate, compõem um tecido que nunca rasga. É perene, é
eterno, fez-me melhor, mais humano, mais feliz.
É isso aí!
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