Zé Luiz

10:36 José Luiz 0 Comments




SAUDADES


Era menino. Sabia o sabor das gabirobas, das pitangas e goiabinhas do cerrado. Conhecia o frescor das águas turvas do ribeirão e me sujava no campo de terra para evitar a surra. Corria na praça, tomava banho de chuva, chupava mexerica no fundo do quintal. Tudo foi muito bom. Mas, a saudade da infância que mais dói é a lembrança de uma mãe amorosa, inteira, pleno afeto exalando pelos poros, exposto em todas as células. A tapioca, o biscoito frito, a cambuquira que pedia para apanhar, os afagos, as risadas, as músicas cantadas em dueto.
Acordávamos ao som do rádio. Zé Bettio, Eli Correia e tantos outros, cujas vozes no velho radinho AM ainda ecoam no antigo guarda-roupa de nossas memórias. O acumulo de meninos sobre a cama disputando um chamego nos cabelos. Tinha espaço e carinho para todos. Ainda vivemos, de alguma forma, sobre aquela cama, sob a força daqueles beijos e abraços que deram liga e que nos fazem unidos até hoje.  
O cheiro do bolo assando, a surrada máquina de costura que preparava nossos embornais de pano, o caminho para a escola que fazíamos questão de alterar passando pela matinha que era apinhada de frutas e sombras. Lá em casa, um cachorrinho manco, um mico teimoso e um papagaio que nunca aprendia a falar. Um quadro pitoresco, colorido, que nunca sai da gente. As dores, os sustos, os risos. As brincadeiras com a bola improvisada, com o carrinho de sabugo, as canções inventadas, os gibis lidos embaixo do pé de abacate, compõem um tecido que nunca rasga. É perene, é eterno, fez-me melhor, mais humano, mais feliz. 
É isso aí!

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