Zé Luiz
MUSIQUEIRA
Criança é coisa
de outro mundo. Quando não encontra respostas para algo, logo inventam. O
grande erro do adulto é permitir que a criança que mora no seu íntimo vá se
acabando aos poucos. Fazer vivo o menino que habita em nós não é o mesmo que
perenizar a inocência e a ingenuidade. É sim, preservar o que temos de melhor.
O olhar da criança não é poluído pela malícia e por segundas intenções. Crê nas
pessoas, mesmo que não devam. Tento deixar vir à tona esse menino escondido
sempre que possível.
Estava eu, em pleno horário de
almoço, sentado num sofá aconchegante de uma sala minúscula para ver um show
pelo dvd enquanto aguardava o alvissareiro “tá pronto”. Logicamente,
aproveitando a cordialidade para usufruir de uma comida caprichada na casa de
um irmão muito querido. Do meu lado, um sobrinho de intrépidos quatro anos de
vida, cheio de quereres e curiosidades. Ele, arrastando um brinquedo pelo
tapete, de vez em sempre rumava um olhar esparso para a tevê. Era um show do
Roberto e, de forma inusitada, surge cantando, toda deslumbrante, a mítica Hebe
Camargo para fazer um dueto com o rei. Meu sobrinho, com os olhos espantados,
disse-me avidamente: “Uai, tio! Essa mulher é musiqueira? Achei que ela era
televisionista.”
Nesse momento,
chega a mãe do menino chamando para a mesa e se depara conosco em largas risadas.
Abraçava com carinho a inventividade daquele menino adorado. Logo, chegou o pai
e fomos relatar o acontecido. Ele, que no alto de sua infância criativa não
conseguia entender muito bem o tamanho da estranheza e das gargalhadas,
perguntou o porquê de tudo aquilo. Explicamos evitando tirar a graça e a leveza
do fato, sem querer corrigir ou ser tão professoral. Essa é uma das muitas
aprontadas por ele. Um dia, conto mais.
É isso aí!
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