Zé Luiz
Remando...
Recalque na linguagem psicanalítica remete à ideia de distanciamento
de sentimentos que provocam nulidades psíquicas, ou fatos e episódios ruins que
eventualmente tenham ocorrido e que a mente preferiu, inconscientemente,
afastar da memória, podendo ressurgir a qualquer momento e provocar sérios
conflitos íntimos, até que venha a catarse, solução para as mais profundas
tragédias interiores.
Prestando atenção na letra de uma música de sucesso nacional
percebi que o termo “recalcada” é utilizado como sinônimo de ciúme, inveja.
Talvez uma tradução mais popular do termo, uma coloquialidade. Sem querer
estabelecer medidas de bom gosto ou coisa parecida, o que impressiona é o fato
de ganhar o público uma música cantada por alguém que não canta e uma
composição que nada diz além de mensagens desaforadas para as “invejosas” de
plantão. Talvez haja algo mais na canção que meus limitados ouvidos tenha tido
a capacidade de detectar. Um paradoxo total. Uma música que incita a violência
e ainda ousa falar de fé em Deus.
O que me cabe como pai e professor é tentar difundir as boas
produções humanas nos ambientes em que me envolvo para tentar minimizar o
impacto da força midiática na propagação dessas “obras popozudas”, evitando
assim maiores recalques. Remando contra a maré, vamos pincelando a nossa vida
com a poesia e a sensibilidade dos verdadeiros artistas brasileiros: os mais
conhecidos e os contemporâneos a serem descobertos, que não são poucos. Temos
os que abriram a picada. Chico, Caetano, Gil, Bethania e tantos outros. Também
já deve ter ouvido falar de Zeca Baleiro, Chico César e Lenine, já veteranos
que vieram depois. Agora, conhece Vander Lee, Juliano Guerra, Roberta Sá,
Cícero e Marcelo Jeneci? Descubra o talento dessa gente boa que tem feito
música da melhor qualidade só para nossa feliz degustação. Em tempos digitais,
nunca esteve tão fácil o acesso à arte e à cultura. As ferramentas estão aí. É
só saber aproveitar.
É isso aí!
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