Zé Luiz
BONDADE
A
bondade deve ser inocente, sem malícias, sem segundas intenções. Falo de uma
bondade genuína, aquela que independe das aparências, que não se preocupa com o
que pensam ou falam. Tem quem usa uma bondade social, meia boca, feita no ponto
para as opiniões alheias, para que vejam e proclamem o quanto são do bem, como
são pessoas caridosas.
Quem
é bom de fato você nota no olhar, no tom da palavra que profere, nas ações que
pratica. É bom em casa, na sala, na cozinha, no banheiro, na convivência com os
amigos, com os filhos e, até mesmo, com supostos inimigos. Há quem tenta abraçar
o mundo, faz doações generosas, frequenta as sessões religiosas, sempre em
posições que possibilitem a visão privilegiada de seu umbigo abismal, porém nega
um mero aperto de mão ao mais próximo, ignora o jardineiro, passa feito estátua
diante do gari, trata mal o garçom. Primeiro, é de bom alvitre ter a fonte
abastecida para depois se arvorar a empanturrar a dos outros. Não dá certo
pregarmos uma caridade exibida, narcisista, se dentro de nós mora um coração
rancoroso, machucado pelos preconceitos, contaminado por ressentimentos. Não
tem quem não conheça gente que é um doce às vistas do coletivo, mas em casa é
fel, é cruel. Tem gente que sente vergonha de pai, de mãe, de mulher, de
marido, que não se conforma com a condição econômica, mas tenta a todo custo
plantar uma imagem social de autoconfiança e polidez. Isso beira ao asco: personalidades
emocionalmente miseráveis, almas fragilizadas, que buscam, com pitadas de
sordidez, um status fugaz e superficial.
É
preciso empenho para atingir essa bondade genuína. Exige muito vencer os fantasmas interiores,
superar nossos ímpetos de inveja, ciúme, vaidade, etc. Definitivamente não é
tarefa fácil. Assim como a hipocrisia, a autoestima e a ambição, a bondade pode
ser medida em níveis. Todo mundo tem, ou tenta ter, mas há uma enorme variação
em grau e intensidade, de acordo com a qualidade do ser. Só a humildade permite
algum avanço nesse componente tão importante na formação do ser humano. Ninguém
pode fazer por nós.
Nossas vaidades
merecem ser pisadas todos os dias e colocadas em seu devido lugar, para que não
se tornem maiores que nós. Os bons, de fato, não veem qualidade nas vestes, mas
sim no que há por detrás delas; não observam a cor dos olhos, mas o jeito de
olhar.
É isso aí!
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