José Luiz
No
quintal lá de casa...
Fui uma criança feliz. Brincava de bola,
tomava banho de ribeirão, comia fruta no pé, lia gibi na sombra da árvore e
corria livre pelas ruas de terra de meu pequeno recanto. Lá em casa, tinha a
companhia de mais cinco irmãos. Minha mãe, de tão amorosa, parecia uma dessas
aves que alojam seus filhotinhos debaixo das asas para protegê-los ou
simplesmente aquecê-los. Meu pai, homem madrugador, labutava muito para dar à
família condição de viver com dignidade. No quintal lá de casa, tinha de tudo:
abacate, mexerica, laranja, manga, galinhas e porcos. Um dia, um irmão muito
astucioso fez uma casa na árvore. Fartura era palavra chave na mesa lá de casa.
Não sobrava para os luxos e futilidades, mas não faltava o essencial para
subsistir, para sermos felizes. Criança não exige muito: barriga cheia e cafuné
já fornecem a abastança para o corpo e o espírito.
Devido o número grande de meninos cruzando a
casa o tempo todo, todo dia parecia festa e aprendemos a dividir tudo desde
muito cedo, da comida às roupas, costume preservado até os tempos de solteiros.
Lembro-me bem das broncas e dos castigos, que hoje entendo terem sido fundamentais
na nossa formação.
Como toda criança tem medo de tempestade,
principalmente dos trovões, quando chovia acabava sendo uma hora boa em que
todos se amontoavam sobre a cama de meus pais, abrigados por cobertores “sapeca
negrinho”, disputando o colo de minha mãe. Ali, a gente ficava até pegar no
sono.
Na escola, todos iam bem. Interessante é que
quem frequentava as reuniões era meu pai, não por descaso de minha mãe, mas por
pura devoção do velho que nunca se furtou do dever de dar estudo aos filhos.
Severo como ele só, não aceitava nenhuma malcriação contra colegas e
professores. E assim fomos crescendo, fortalecendo os valores e vitaminando o
amor à vida.
Penso que deveria existir uma lei, muito
mais robusta que qualquer estatuto, em que rezasse que toda criança deveria ser
feliz e que nada tivesse poder suficiente para interromper a sua risada. A
qualidade da infância é que dita a qualidade do homem.
É isso aí!
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