José Luiz
Bons Tempos
Lembro-me de
um tempo feliz. Meus pais, rodeados de seis meninos, labutavam incansavelmente
para dar conta do recado. Numa época em que tudo era mais difícil. Para chegar
à escola, gostava de atravessar o mato e ir colocando frutas do cerrado no
surrado embornal de pano, enroscando os chinelos nas raízes e galhos. Gabiroba,
pitanga, mama-cadela e tantos outros sabores peculiares de nossa terra. No
almoço, nunca faltava o pedaço de carne preparada na sustança da banha de porco,
acompanhado por verduras colhidas no fundo de quintal e a saborosa cambuquira
(broto de abóbora). Não tinha essa coisa de escolher tipo de comida, “não gosto
disso, só gosto daquilo”. É o que estava posto à mesa. Aprendemos a apreciar o
sabor do jiló, do quiabo, da guariroba, do quibebe de mandioca, de todos os
pratos que nos fizeram sadios. Refrigerante, quando tinha, era o paladar
inesquecível do guaraná maçã. Sinto ainda, vivo na memória, seu cheiro e sabor.
Mas, o que mais atiça e acaricia minhas
lembranças é o colo de minha mãe. Sempre disse que colo materno tem poder
curativo. Ali, sentíamo-nos confortáveis e protegidos. Em dias de chuva,
vasavam as goteiras entre as frestas da telha comum, e nos ajuntávamos na mesma
cama de casal, buscando guarida, recolhendo ternura. Algumas coisas faltavam,
mas sobrava amor.
Engraçado é que essas lembranças não
me ferem o coração. Brota mesmo é um sentimento de ternura e saudade sem dor. Mesmo
com a maturidade manifesta nos cabelos brancos que já chegam teimosos, não é vergonha
se aconchegar e pedir um cafuné, um abraço, um afeto. Para os que ainda podem, é
sempre bom fazer uso desse dom. Revigora a alma, ilumina a vida.
É isso aí!
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