José Luiz

10:44 José Luiz 0 Comments



Sarriá
            Lembro-me bem daquele cinco de julho, em Sarriá, Espanha, há trinta anos, quando uma tristeza caiu como pedra sobre todos os brasileiros. O Brasil tinha uma seleção magistral, dava espetáculo a cada partida. Não era possível que a magia daquele time tenha se dobrado perante o antídoto do futebol força. Minha cabeça de adolescente apaixonado não permitia que eu visse as falhas do nosso time, nem percebesse as qualidades do adversário. Logo depois da partida, veio uma ilusão tola, plantada por outros ainda mais apaixonados, de que Paolo Rossi havia sido pego no exame antidoping e que a partida seria anulada. Mero factoide que logo depois esvaeceu feito fumaça rala.
            Aquele fato, aparentemente triste, trouxe muitas lições. Aprendemos que é possível admirar algo, mesmo que não tenha atingido os píncaros. A seleção brasileira ganhou nosso amor e respeito, apesar de não ter vencido a peleja. Ensinou-nos ainda que era preciso ter respeito pelo adversário. Por mais que não queiramos aceitar, ele – o adversário – tem seus valores e merece nossa reverência; no mínimo, nossa consideração.
            A vida vai nos pregando peças e, por vezes,  deixamo-nos cegar por meias verdades, por crenças mal explicadas, por fanatismos desconexos. Chegamos até mesmo a duvidar de instituições seculares, instigados pelas nossas suspeitas e frustrações. Ofendemos amigos, afastamo-nos de irmãos, criamos conflito no trabalho, justamente porque alguns pensam diferente de nós. Não aceitamos como possível que o outro não consiga enxergar a “luz” que vislumbramos como tábua de salvação. É... felizmente, cada uma tem a liberdade de construir seu pensamento, analisar os fatos, tirar suas próprias conclusões. A cada dia mais, as pessoas não são tão teleguiadas, manipuladas, possuem vida própria, capacidade de discernir e decidir. Assim, é perda de tempo brigar, ferir o outro, motivado por ideologias que passam e, ás vezes, mudam de mãos tão facilmente. O que pereniza e permanece, de fato, são as nossas amizades. Somos seres relacionais, que dependem uns dos outros. Por mais que alguns não queiram aceitar, o amor é liga que une as pessoas. Todo ser humano é dotado da capacidade de amar e de respeitar o próximo. É o princípio fundamental da ética e que ampara as bases de toda religião e de todo grupo social.
            É isso aí!

0 comentários: