José Luiz
Sarriá
Lembro-me
bem daquele cinco de julho, em Sarriá, Espanha, há trinta anos, quando uma
tristeza caiu como pedra sobre todos os brasileiros. O Brasil tinha uma seleção
magistral, dava espetáculo a cada partida. Não era possível que a magia daquele
time tenha se dobrado perante o antídoto do futebol força. Minha cabeça de
adolescente apaixonado não permitia que eu visse as falhas do nosso time, nem
percebesse as qualidades do adversário. Logo depois da partida, veio uma ilusão
tola, plantada por outros ainda mais apaixonados, de que Paolo Rossi havia sido
pego no exame antidoping e que a partida seria anulada. Mero factoide que logo
depois esvaeceu feito fumaça rala.
Aquele fato,
aparentemente triste, trouxe muitas lições. Aprendemos que é possível admirar
algo, mesmo que não tenha atingido os píncaros. A seleção brasileira ganhou
nosso amor e respeito, apesar de não ter vencido a peleja. Ensinou-nos ainda
que era preciso ter respeito pelo adversário. Por mais que não queiramos
aceitar, ele – o adversário – tem seus valores e merece nossa reverência; no
mínimo, nossa consideração.
A vida vai
nos pregando peças e, por vezes,
deixamo-nos cegar por meias verdades, por crenças mal explicadas, por
fanatismos desconexos. Chegamos até mesmo a duvidar de instituições seculares,
instigados pelas nossas suspeitas e frustrações. Ofendemos amigos, afastamo-nos
de irmãos, criamos conflito no trabalho, justamente porque alguns pensam diferente
de nós. Não aceitamos como possível que o outro não consiga enxergar a “luz”
que vislumbramos como tábua de salvação. É... felizmente, cada uma tem a
liberdade de construir seu pensamento, analisar os fatos, tirar suas próprias
conclusões. A cada dia mais, as pessoas não são tão teleguiadas, manipuladas,
possuem vida própria, capacidade de discernir e decidir. Assim, é perda de
tempo brigar, ferir o outro, motivado por ideologias que passam e, ás vezes,
mudam de mãos tão facilmente. O que pereniza e permanece, de fato, são as nossas
amizades. Somos seres relacionais, que dependem uns dos outros. Por mais que
alguns não queiram aceitar, o amor é liga que une as pessoas. Todo ser humano é
dotado da capacidade de amar e de respeitar o próximo. É o princípio
fundamental da ética e que ampara as bases de toda religião e de todo grupo
social.
É isso aí!
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