José Luiz
O MENINO SE FOI...
O cordão umbilical finalmente se rompeu. O menino, antes tímido e acanhado, acostumado a esperar pelas decisões dos pais, agora encara um mundo diferente, uma metrópole se posta perante seus olhos e ele tem de encarar, enfrentar seus medos, os fantasmas da solidão, um universo chamado universidade. A timidez recôndita agora será parte de um passado que mora na infante memória do adolescente que sai do casulo para se tornar ser altivo que busca as estrelas. “Pai, peguei o metrô e fui parar na casa do primo.” Desta forma, as correntes viram pó e o menino ganha o mundo. A lágrima que ficou retida, prestes a verter, durante tantos dias, e que banhou a dura separação, agora se converte em corações pacificados com a certeza de que o menino está no rumo certo, construindo sua trajetória, protagonizando seu destino.
A saudade vem nas pequenas coisas, nas lembranças do bate-papo, nos objetos, nos cenários que compunham a caminhada. A tecnologia contribui muito para amenizar as distâncias. A imagem no computador, a voz perfeita na caixa de som, a conversa breve no celular, abrandam e dão a sensação de conforto e alento, que acalentam a alma. Tal qual um ritual de passagem, como ocorre com os aborígenes, há de ter sofrimento nos primeiros instantes para que o espírito ganhe força e o corpo esteja pronto para os embates da vida. É assim que funciona.
A cada mês a expectativa da visita, a mãe prepara as comidinhas prediletas, a irmã ansiosa por saber maiores detalhes, o pai apreensivo pelo abraço distante. Estas coisas têm deixado a família mais próxima, por mais paradoxal que pareça. Tem hora que a distância aproxima as pessoas, tornam-nas mais afetivas e unidas. É a experiência do afastamento, tão necessário para o crescimento de muitos. Não importa quanto tempo junto, mas sim a qualidade deste tempo junto. A vida em conta-gotas ensinando sempre.
É isso aí!
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