José Luiz
CABELOS BRANCOS
Ele chega de mansinho, encontra seu canto, puxa uma conversa, meio sem jeito, como se pedisse um favor. Quer um pouco de atenção, depois de devotar toda uma vida aos outros, clama um pouquinho de afeto. Assim são nossos velhinhos, cansados, mas ávidos por um bom papo, por poderem transferir doses de uma sabedoria recolhida por anos a fio e armazenadas num coração sem tamanho. Nesta idade, precisam tanto dos amigos, especialmente dos filhos amigos. Sentem-se importantes quando desaceleramos o ritmo alucinante para lhes dedicar uns dedos de prosa, ouvir suas histórias bonitas, as penúrias de antigamente, as delícias de um tempo sem tanta maldade, desprovido das malícias modernas.
Ah, meus queridos idosos, queria poder ter um colo do tamanho do mundo, para poder acalentá-los. Depois de ofertarem todo o acalanto, retribuir uma pontinha do que fizeram por nós. Nossos anciãos, lamentavelmente, não recebem a atenção devida. E não venham culpar somente os governos e governantes, pois esta é uma questão cultural. Não se valoriza os pais e avós de idade avançada, como naturalmente ocorre entre os orientais. Se aqui chegamos, não foi por acaso. Uma trilha foi construída, e de forma muito espinhosa, para que pudéssemos então repousar em berço esplêndido.
Nunca perca a paciência com os amados senhores e senhoras de cabelos brancos. Domemos nossos ímpetos e arrojos para poder compreendê-los, amá-los, porque haverá um tempo em que será a vez de nossos meninos nos ampararem. Estão nos observando o tempo todo. Sinceramente, não quero nenhum “couro de boi” como presente. Vou preferir a companhia amorosa e paciente dos entes queridos.
Perdão pela intransigência, pela impaciência, pelo afã que impede maior tempo juntos. Obrigado pela vida, pelos conselhos, pelos exemplos, pela amizade.
É isso aí!
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