José Luiz
Casa da Criança
Vi meninos com chinelo de dedo jogando xadrez; vi crianças com problemas muito mais duros do que estes que você julga serem problemas, vencendo jogos de soletração; vi sorrisos que valiam mais que qualquer castelo; vi lágrimas de uma menina por ganhar uma bicicleta que lavavam a alma, de uma poesia inquietante. Estou meio habituado a presenciar momentos singulares assim, pois sou professor da rede pública. Mas, aquele dia foi diferente. O envolvimento dos profissionais era contagiante. O engajamento à missão. A entrega à causa era total e definitiva. Isto é a força motriz do sucesso de qualquer empreitada. Passei algumas horas em uma instituição exemplar em nossa cidade, assim como várias outras. Nossa terra é fértil em gente e atitudes de valor. Aprendi muito, segurei o choro, abracei a vida com mais força. Lembrei-me dos meus e agradeci.
Sei do apoio do poder público, dos repasses mensais, da colaboração dos voluntários, da participação da Igreja, do envolvimento de tanta gente. E por isso, dobro a coluna para reverenciar e aplaudir os que incentivam essa obra, de arte, de fé, de amor, em favor da infância. Aquela casa abençoada, de propriedade das crianças, é um santuário de bons presságios. Ali, não tem maldade que prevaleça, nem angústia que dure para sempre. Ali, tem amor em doses cavalares, duma densidade quase palpável, com cores infinitamente lindas e perenes. Poder compartilhar de tudo isso é uma dádiva.
Tenho comigo que criança não foi feita para sofrer, por mais que saibamos que o sofrimento é matéria prima da vida, é inevitável e, até mesmo, imprescindível para nosso crescimento. Drummond, numa singela manifestação poética disse que preparava uma canção que fizesse acordar os homens e adormecer as crianças. Que permaneçamos de pé, em prontidão, para proteger e amparar, deixar vir até nós os pequeninos. Adormecer as crianças é cuidar bem da infância, é proporcionar conforto, afeto, segurança. É dar de comer, de beber, lugar para dormir, lugar para brincar, para estudar. É, ainda, atribuir limites, estabelecer regras, direitos e deveres. Criança feliz não gera adulto frustrado, cheio de traumas, recalques e deprimido (tema para outro artigo). Cumpramos, pois, nosso dever.
É isso aí!
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