CRÔNICA DO COTIDIANO DE UM PROFESSOR - "OS ATORES DO MAESTRO JOSINO"

14:56 Professor José Luiz 0 Comments


 Nestes meus 35 anos de estrada no magistério, já fui de tudo um pouco: conselheiro, psicólogo, gestor, zelador, pintor, escritor, editor de livros, cantor e até ator. Sempre me coloquei a postos para auxiliar a escola e os alunos naquilo em que pudesse ser útil, por mais inusitado que fosse. Nunca tive essa pachorra de dizer "não fui contratado para isso" ou "isso não está no meu contrato". Sou professor de corpo e alma, e para mim, educação é entrega total e absoluta. É arte, é poesia, é a própria vida respirando no cotidiano.

O ano era 2001. Eu, recém-empossado no meu primeiro cargo, ainda com o coração aos pulos diante da grandeza da função, após uma década atuando como docente designado, ali na cidade de Frutal, na tradicional Escola Estadual Maestro Josino de Oliveira. O ar era de final de ciclo, daquela fadiga gostosa que precede as férias. Foi então que um grupo de professores, movido por um espírito brincalhão, resolveu montar uma esquete para a confraternização de fim de ano.

A ideia era uma paródia de um programa recém-chegado à TV, que todos comentavam. Criamos o Big Brother Estadual, uma sátira carinhosa onde fazíamos caricaturas engraçadas e jocosas dos profissionais que coloriam a escola naquele tempo. Tudo era feito de forma singela e respeitosa, longe de qualquer afronta, com a pura intenção de levar alegria e descontrair corações.

E lá estávamos nós, no palco do pátio da escola: eu, Clóvis, Paulão, Carlinhos e um convidado de luxo, o cantor Regis – um performático nato que, em seus momentos de glória, imitava com perfeição grandes divas da música internacional. Eu fazia o papel do apresentador do programa à época. Lá atrás, o diretor Waltão, com seu sorriso largo, "dava corda" para a nossa loucura, nos incentivando a soltar a voz e a criatividade. Ele sabia que aquele era um remédio raro contra o cansaço.

Foi uma noite especial, daquelas que se gravam na memória afetiva de uma comunidade. Trouxe leveza a uma classe muitas vezes assoberbada pelas tarefas cotidianas e pelo peso solene das responsabilidades. Foi mais do que uma brincadeira; foi um ato de resistência pela alegria, um suspiro coletivo em forma de riso.

Essa lembrança me veio à tona recentemente, ao receber uma fotografia daquele dia marcante, enviada por uma querida amiga, hoje diretora da escola. O registro congela o instante preciso em que eu entrava triunfal no palco, invadido pela persona do apresentador do fictício programa de TV. O rosto efervescente de um entusiasmo que só a entrega genuína consegue produzir.

Oh, coisa boa é deixar a mente viajar pela saudade bonita de um tempo já vivido. Mais do que boa, é necessário. É esse afeto que nos reabastece e nos lembra do porquê de cada lida diária e como vale a pena esta jornada de professor.


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