CRÔNICA DO COTIDIANO DE UM PROFESSOR - A MENINA QUE CONSTRÓI JARDINS!
Em uma pequena escola rural, havia uma estudante de olhar determinado e sorriso aberto. Chamavam-na Tatinha, uma menina de 14 anos, excelente aluna, que, entre a rotina de matérias e brincadeiras com os amigos, decidiu que era hora de transformar sua escola. Ela entrou na disputa pelo grêmio estudantil, não apenas pela vontade de comandar, mas pelo desejo de ouvir, unir e, acima de tudo, fazer diferença.
Aquelas eleições pareceram um desfile
de cores e vozes, a efervescência juvenil pisando firme no chão de uma
realidade simples, mas cheia de sonhos, até mesmo com momentos parecidos com
comícios. Tatinha não era a única com ideias; havia um candidato adversário, Luiz,
que se comprometia em também realizar bons trabalhos em favor da escola. Contudo,
o inesperado aconteceu. Ao final da votação, quando o nome de Tatinha foi
declarado vencedora, ela olhou para o rival e teve uma ideia que provocou
murmúrios de surpresa: convida-lo a fazer parte de sua diretoria.
"Juntos, podemos ir mais
longe", disse a menina, com a sabedoria de quem carrega em si a semente da
solidariedade. Luiz, perplexo, aceitou o convite, e assim, davam exemplo para
os adultos que vivem em constante guerra e destruição de currículos, de que a disputa
precisa ser respeitosa e a rivalidade pode se transformar em parceria pelo bem
da coletividade. Ali, Tatinha percebeu que mais do que ganhar uma eleição,
ganhara aliados e, junto a eles, a compreensão de que a verdadeira liderança
não se constrói sobre a competição, mas sim na colaboração.
Nisso, surgia o projeto “Jardim
Liberdade”, um desejo antigo de confeccionar o jardim escolar, um espaço que
simbolizava o florescer de ideias e de amizades. O diretor convocou o grêmio e
disse: “farei as calçadas e conseguirei os bancos, mas o jardim fica por conta
de vocês”. Desafio lançado, desafio aceito. Com a ajuda dos colegas do grêmio e
de alguns professores, a presidente vislumbrou um cenário bonito que, em sua
mente, brotava como as flores que queria plantar. E assim, dia após dia, a
terra foi virada, as sementes foram lançadas, transportaram a grama de uma
fazenda até o local, e um jardim foi erguido na frente da escola. O aroma das
flores e o verde vibrante se tornaram um convite à reflexão e ao cuidado com o
meio ambiente.
Quando a obra finalmente foi
inaugurada, a meninada não parou de admirar seu resultado, e os adultos, por
sua vez, não podiam deixar de se maravilhar com a mente e o coração daquela
jovem. Afinal, ali estava não apenas um jardim, mas um símbolo de comunidade,
um testemunho de que a união pode gerar beleza.
Os anos passaram e Tatinha cresceu.
Sua paixão por construir jardins, em sentido figurado, nunca a abandonou. Ela
se tornou uma figura de destaque regional, uma líder que cultiva projetos que
reverberavam a mesma essência do seu primeiro grande ato: a valorização da
coletividade, a criação de espaços de conquistas e de diálogo, pautada por uma
visão empreendedora, uma vocação que se via desde então. Onde quer que vá, Tatinha
planta flores, mas também semeia esperança, ensina a plantar e inspira pessoas.
E assim, em cada pedaço de terra que
cultiva, em cada “jardim” que ajuda a erguer, está uma alusão àquela menininha
que, entre risos e sonhos, olhou para a vida e decidiu que era preciso mais do
que florir; era necessário, produzir frutos e, acima de tudo, construir laços que permanecessem
para além de qualquer eleição. E nunca mais deixou de plantar jardins!
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