CRÔNICA DO COTIDIANO DE UM PROFESSOR - A MENINA QUE CONSTRÓI JARDINS!

13:53 Professor José Luiz 0 Comments


Em uma pequena escola rural, havia uma estudante de olhar determinado e sorriso aberto. Chamavam-na Tatinha, uma menina de 14 anos, excelente aluna, que, entre a rotina de matérias e brincadeiras com os amigos, decidiu que era hora de transformar sua escola. Ela entrou na disputa pelo grêmio estudantil, não apenas pela vontade de comandar, mas pelo desejo de ouvir, unir e, acima de tudo, fazer diferença.

Aquelas eleições pareceram um desfile de cores e vozes, a efervescência juvenil pisando firme no chão de uma realidade simples, mas cheia de sonhos, até mesmo com momentos parecidos com comícios. Tatinha não era a única com ideias; havia um candidato adversário, Luiz, que se comprometia em também realizar bons trabalhos em favor da escola. Contudo, o inesperado aconteceu. Ao final da votação, quando o nome de Tatinha foi declarado vencedora, ela olhou para o rival e teve uma ideia que provocou murmúrios de surpresa: convida-lo a fazer parte de sua diretoria.

"Juntos, podemos ir mais longe", disse a menina, com a sabedoria de quem carrega em si a semente da solidariedade. Luiz, perplexo, aceitou o convite, e assim, davam exemplo para os adultos que vivem em constante guerra e destruição de currículos, de que a disputa precisa ser respeitosa e a rivalidade pode se transformar em parceria pelo bem da coletividade. Ali, Tatinha percebeu que mais do que ganhar uma eleição, ganhara aliados e, junto a eles, a compreensão de que a verdadeira liderança não se constrói sobre a competição, mas sim na colaboração.

Nisso, surgia o projeto “Jardim Liberdade”, um desejo antigo de confeccionar o jardim escolar, um espaço que simbolizava o florescer de ideias e de amizades. O diretor convocou o grêmio e disse: “farei as calçadas e conseguirei os bancos, mas o jardim fica por conta de vocês”. Desafio lançado, desafio aceito. Com a ajuda dos colegas do grêmio e de alguns professores, a presidente vislumbrou um cenário bonito que, em sua mente, brotava como as flores que queria plantar. E assim, dia após dia, a terra foi virada, as sementes foram lançadas, transportaram a grama de uma fazenda até o local, e um jardim foi erguido na frente da escola. O aroma das flores e o verde vibrante se tornaram um convite à reflexão e ao cuidado com o meio ambiente.

Quando a obra finalmente foi inaugurada, a meninada não parou de admirar seu resultado, e os adultos, por sua vez, não podiam deixar de se maravilhar com a mente e o coração daquela jovem. Afinal, ali estava não apenas um jardim, mas um símbolo de comunidade, um testemunho de que a união pode gerar beleza.

Os anos passaram e Tatinha cresceu. Sua paixão por construir jardins, em sentido figurado, nunca a abandonou. Ela se tornou uma figura de destaque regional, uma líder que cultiva projetos que reverberavam a mesma essência do seu primeiro grande ato: a valorização da coletividade, a criação de espaços de conquistas e de diálogo, pautada por uma visão empreendedora, uma vocação que se via desde então. Onde quer que vá, Tatinha planta flores, mas também semeia esperança, ensina a plantar e inspira pessoas.

E assim, em cada pedaço de terra que cultiva, em cada “jardim” que ajuda a erguer, está uma alusão àquela menininha que, entre risos e sonhos, olhou para a vida e decidiu que era preciso mais do que florir; era necessário, produzir frutos e, acima de tudo, construir laços que permanecessem para além de qualquer eleição. E nunca mais deixou de plantar jardins!


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