COMO TEM OCUPADO SEU TEMPO?
Não tem jeito, temos mais passado que futuro. O segundo tempo já começou há algum tempo. Agora, é fazer valer cada instante, cada minuto de sobriedade, em meio à embriaguez de tempos fugazes, apressados. Os pais vão indo, somos os próximos da fila. Os filhos já não moram mais aqui. Restam os dois. Que bom termos um ao outro, ainda com um restinho de saúde que nos permite sonhar um pouco mais, viajar mais, sorrir um cadinho mais.
Creio, com todas as forças da alma, que
preciso continuar a esparramar sementes que venha germinar e espalhar um legado
de esperança, amor e fé na vida, até o último respirar. Sei, na pura ingenuidade
dos tolos, de quem acredita no improvável, no intangível, na tese aparentemente
absurda, que ainda há lenha para queimar, tantos corações para atingir. Mas,
sou um ser forjado nas teias do amor. Minha mãezinha, que mora com as estrelas,
transferiu a mim a maior das heranças. Ser afetivo já não é entrave, é obrigação.
Superei os traumas do patriarcado há algum tempo, de uma criação machista em que
não podemos nos aventurar a expor os sentimentos, sob pena de ser julgado um
tanto frágil ou outras constatações virulentas e preconceituosas.
Não tenho mais barreiras que me atravanquem
em dizer o que sinto, de manifestar meu carinho, minha gratidão, meu apego. Se
amo os meus chegados, meus alunos, a família ou meus amigos, vou dizer bem alto
para que não haja dúvidas do tamanho deste afeto. Para que guardar tanta
nobreza, se o tempo vai embora assim mal educado, sem dizer que está indo e que
não mais vai voltar. E quando nos damos conta está na hora de fechar as portas
e dizer adeus, até nunca mais.
Vou chorar as lágrimas que tiverem de
cair. Meus olhos já não possuem mais barragens que as contenham. Mas,
certamente vou sorrir muito, vou rir em demasia até que também derrame lágrimas
expulsas pela alegria. Tenho muito apreço pelas dores que vivi, pois me
permitiram chegar até aqui. Mas, sem medo de errar, tenho mais ainda profunda estima
pelas risadas incontidas, pelo humor que levou felicidade aos outros, pelo
prazer de estarmos juntos. E a gente vai percebendo que o que temos de maior
valor é o que não dá para pegar, aquilo que não podemos comprar com o tilintar
das moedas, mas sim é fixado pela liga do coração, pela cédula mais preciosa
chamada amor. Podem até me chamar de piegas, meio fora de moda, já não ligo mais.
Acredite: vou dar boas risadas disso
tudo e no fim vão perceber que tinha razão e que é preciso correr atrás de um
tempo que não temos mais. O sol vai continuar nascendo, as coisas vão continuar
existindo, mesmo que não estejamos mais aqui. Por mais importante que a gente
se considere, as saudades que vamos deixar, tudo vai passar. E daqui a pouco,
nem saudades mais seremos. A hora de viver é agora, de deixar vir à tona o amor
que reside aí dentro. Vamos assim surpreender quem amamos com o inusitado gesto
do abraço e palavras que identifiquem o teor de seu sentimento. Vamos juntos!
É isso aí!
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