SANTAS MÃOS
A velha benzedeira separa as folhas de arruda
Num ritual místico, que transcende o real
Quebranto precisa partir para longe, bem longe
Mau olhado não há de vingar nesta vida
Palavras inteligíveis, balbuciadas bem baixinho
Algo como ladainhas repetidas, incansáveis
Numa cantilena que hipnotiza, faz sonhar
E faz a mente viajar distante, de tão serena
Sutil... As folhas roçam o rosto levemente
Tirando os males, aliviando um peito sofrido
Murchas vão ficando na fé que nos empurra
Na crença de mãos que sabem dar alívio
A pele negra que carrega uma história
Recheada de traços, nuances e cores
Nas Congadas, nos Reisados, passos firmes
Levam o comboio que não pode parar nunca
Sinto a alma leve, desprovida de olhos gordos
Livre dos desejos ruins e pronto para a luta
Para o embate de dias ainda difíceis e sem agouros ruins
Em desafios a serem levados por uma vida inteira
Foto: Rosanna Versiani
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