SANTAS MÃOS

19:27 José Luiz 0 Comments



A velha benzedeira separa as folhas de arruda

Num ritual místico, que transcende o real

Quebranto precisa partir para longe, bem longe

Mau olhado não há de vingar nesta vida


Palavras inteligíveis, balbuciadas bem baixinho

Algo como ladainhas repetidas, incansáveis

Numa cantilena que hipnotiza, faz sonhar

E faz a mente viajar distante, de tão serena


Sutil... As folhas roçam o rosto levemente

Tirando os males, aliviando um peito sofrido

Murchas vão ficando na fé que nos empurra

Na crença de mãos que sabem dar alívio


A pele negra que carrega uma história

Recheada de traços, nuances e cores

Nas Congadas, nos Reisados, passos firmes

Levam o comboio que não pode parar nunca


Sinto a alma leve, desprovida de olhos gordos

Livre dos desejos ruins e pronto para a luta

Para o embate de dias ainda difíceis e sem agouros ruins

Em desafios a serem levados por uma vida inteira


Foto: Rosanna Versiani

0 comentários: