SEU ZÉ
Meu compadre era um sujeito simples, um amigo com um jeito
todo peculiar, quase um matuto, um homem rústico, mas de uma singeleza sem
igual. Carregava na fala os traços de uma gente nordestina que suporta as
agruras de um mundo árido, cheio de armadilhas e tropeços. Meu compadre partiu dia destes. Foi-se embora
sem comunicados prévios. Deixou em nós um campo fértil de bons conselhos, de
uma amorosidade sertaneja daquele que produz polvilho e planta ramas com a
paixão de quem realiza os maiores feitos. Plantou no mundo criaturas tão boas
quanto ele. Os filhos seguem por aí espalhando gentilezas, serenidade, humildade
e um desejo enorme de vencer na vida pela força do trabalho honesto. Hoje,
vendo uma foto linda enviada por um neto seu, veio a vontade de escrever sobre
meu compadre. Lembrei dos tempos em que vendia os melhores espetos de carne, o
que lhe proporcionou a alcunha de “Zé do Espetinho”. Mais que espetinhos,
compadre Zé nos entregava um sorriso largo, uma prosa boa recheada de bons
conselhos, um carinho na alma das pessoas que tiveram a felicidade de sua
companhia doce, escondida em um jeito austero de ser.
Vai, meu compadre, siga plantando ramas de esperança em outros
campos, com aragens finas e brisas leves. Ficaremos por aqui, tentando copiar
um pouquinho de sua forma toda particular, de seu sorriso farto, de suas
palavras sempre vivas de entusiasmo e respeito ao semelhante. De você, viverá em nós a lembrança de um forte, de um
sábio sem diploma, de um rico sem moedas que sabia reconhecer os verdadeiros tesouros
desta vida. Observando cada detalhe da foto, onde meu compadre caminha por uma
ruela com destino a uma casa na roça, composta de uma simplicidade bonita que nos
comove, chego à conclusão de que devemos olhar o passado respeitando os fatos
idos e que este é um passo decisivo para um porvir promissor. O passado seja,
então, nosso professor.
É isso aí!
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