BRUMAS
Por onde corre aquele preá esperto que vivia às margens de
um rio que já foi doce?
Para onde foge aquele cervo assustado que bebia atento das
águas de um leito cristalino?
Cadê aquela florzinha teimosa que nasceu em meio ao gramado
nativo de uma barranca?
Cadê aquele tucunaré que se arvorava em subir as corredeiras
frias em tardes quentes?
Onde foi parar aquele rapaz grudado na esperança que pescava
todo dia um tanto de peixes?
Me diz por onde anda o Carlos, a doutora, o Leo, o pastor e
o Daniel? Será que ainda andam?
E aquele menino que corria livre entre brumas só para sentir
o cheiro de beira de rio?
Fale para mim como estão a pitanga e os frutos que saciavam
os bichos daquele lugar? Doces?
Pode me contar. Eu quero só saber se voltam ou foram tragados
por alguma desilusão.
Vai, não faz assim! Conte se os sonhos foram enterrados ou
ainda povoam aquele rico lugar.
Se der, fique à vontade para contar as histórias e causos de
vidas com muita vida pela frente.
É... o olhar triste me diz que só restaram lágrimas que barreira
nenhuma pode impedir de cair.
As pessoas sofrem um lamento sem fim de um corte lancinante
na alma desesperada e gritam.
Os filhos esperam uma mãe chegar, o cachorro latir e a
alegria brotar de uma terra devastada.
A lama cegou os sonhos, a lua já não se verá no espelho. Apagou
a ilusão de um futuro logo ali.
Tudo já não vale a pena, quando a pequenez de almas só notam
cifras e o canto das moedas.
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