BRUMAS

16:13 José Luiz 0 Comments



Por onde corre aquele preá esperto que vivia às margens de um rio que já foi doce?
Para onde foge aquele cervo assustado que bebia atento das águas de um leito cristalino?
Cadê aquela florzinha teimosa que nasceu em meio ao gramado nativo de uma barranca?
Cadê aquele tucunaré que se arvorava em subir as corredeiras frias em tardes quentes?

Onde foi parar aquele rapaz grudado na esperança que pescava todo dia um tanto de peixes?
Me diz por onde anda o Carlos, a doutora, o Leo, o pastor e o Daniel? Será que ainda andam?
E aquele menino que corria livre entre brumas só para sentir o cheiro de beira de rio?
Fale para mim como estão a pitanga e os frutos que saciavam os bichos daquele lugar? Doces?

Pode me contar. Eu quero só saber se voltam ou foram tragados por alguma desilusão.
Vai, não faz assim! Conte se os sonhos foram enterrados ou ainda povoam aquele rico lugar.
Se der, fique à vontade para contar as histórias e causos de vidas com muita vida pela frente.
É... o olhar triste me diz que só restaram lágrimas que barreira nenhuma pode impedir de cair.

As pessoas sofrem um lamento sem fim de um corte lancinante na alma desesperada e gritam.
Os filhos esperam uma mãe chegar, o cachorro latir e a alegria brotar de uma terra devastada.
A lama cegou os sonhos, a lua já não se verá no espelho. Apagou a ilusão de um futuro logo ali.
Tudo já não vale a pena, quando a pequenez de almas só notam cifras e o canto das moedas.

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