RUA DO MEIO
Vou andando pela rua do meio, a cabeça de um menino inocente que nem sabia direito o que era ser gente. A rua ainda era de terra. Vou indo para a escola. Nos pés um par de Conga, destes tênis antigos, recém presenteado pelo pai que comprara vários pares para vender na venda; no ombro a alça de um embornal de pano costurado com esmero pela mãezinha em sua surrada máquina de costura, tocada pelo movimento dos pés. A cabeça viajando nas brincadeiras que viriam depois, no banho no córrego que ainda tinha água limpa, nas peladas no campo de terra, nos carrinhos com rodas de sabugo, no biscoito frito na hora da saudade no radinho AM.
Andando hoje pela rua do meio, veio uma chuva de saudades e lembranças. Vou andando e já não vejo o Chico no banco de madeira, nem o Seu João, muito menos as delícias de D. Alzira, especialmente o maravilhoso bolo paulista. Sigo mais um pouco, me vem à mente o telefone bonito preso na parede da casa do Celestrino. Já não tem mais o Joaquim Marçal, nas baladas da discoteca que ditou a trilha sonora de nossas juventudes; já não tem mais o Adonias que sabia receita para todos os males, inclusive os males da alma por meio de sua amizade fiel. O Mané do Bar também quis ir mais cedo e o bar ainda está lá com as portas fechadas. O Zé Novato e seu inseparável chapéu há tempos se foi e na esquina o Antônio Secundino já não tem mais balas para vender na descida para a escola. Hoje deve vender coisas baratas lá para as bandas do céu. O Gabriel Zago já não está mais lá com suas paixões políticas e futebolísticas para perturbar os adversários. Ah, Seu Zé Clarimundo e suas modas tristes, seus sonhos de artista e seus colchões de palha. O Liga, logo na esquina, vendendo cachaça para os amigos. Atravessamos um córrego miúdo que fazia a divisa das terras do Seu Zé Pereira com a vila. Seu Zé doou o terreno para que hoje tivéssemos escola.
Todos nós um dia viraremos saudade. A matéria vida se esvai por entre os dedos e o que resta é a lembrança do que fomos. Coisa estranha! Nem dos damos conta que o tempo vai fugindo de nós. Por isso, recomendo que a alegria não seja adiada, que o beijo nunca deixe de ser dado, nem os abraços negados. Amemos com intensidade. É o que deixaremos de mais precioso.
É isso aí!
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