DESPRENDER-SE

10:55 José Luiz 0 Comments



Desprendimento é o ato de se livrar, não se deixar prender, desprender-se. É a virtude dos que não se apegam em demasia, que não se felicitam apenas por acumulo de bens materiais, de riquezas que se vão. A pessoa desprendida tem como principal característica o desapego e dão valor àquelas coisas que não dão para fazer avaliação financeira, colocar preço. Quando se aprende a compartilhar, se aprende a dividir e as coisas tendem a se multiplicar. No mínimo, terá um coração mais leve, menos culpado, mais feliz. A gente vive acumulando quinquilharias que nunca usamos, mas não queremos nos desapegar. Assim também vivemos nossos dias, no convívio com as pessoas. Ficamos arraigados, presos a ressentimentos, a rancores que só fazem mal. Uma frase que atribuem ao cantor John Lennon diz que “amo a liberdade, por isso deixo as coisas que amo livres. Se elas voltarem é por que as conquistei, se não voltarem, é por que nunca as possuí!” Assim, quem se desprende não fica se apegando a coisas do passado, movido por sentimentos de vingança. Quem se vinga pode até se alegrar por um período, mas quem perdoa é feliz a vida toda.

Se perguntarem qual o sentido da vida, diga sempre que é para frente. É para frente que se anda, não olhando o passado com o coração recheado de maus sentimentos, de amarras, de mágoas. Aprenda com os erros, mas se desprenda deles. Eles não são você. Viva melhor, entregue-se com o coração livre, pronto para usufruir a aventura de viver o hoje. O sujeito verdadeiramente livre é aquele que não está preso a nenhuma condição material, que está feliz com o que possui, que luta por melhorias, porém não é escravo delas. A pessoa desprendida é desprovida da ambição exacerbada. Tem seus planos e sonhos, porém não morre por eles, pelo contrário, vive por eles. Assim como qualquer pessoa, ela sonha, ela acredita, mas vive o hoje com intensidade, pois sabe que é exatamente o que tem para viver. Clarice Lispector disse assim: “serei sempre apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer”. Devemos nos apegar a coisas que de fato preenchem nossas vidas de sentido. Guarde nesta vida o que vale a pena. Guarde os amigos, os amores, a arte, a música, um trabalho que te faz feliz.

Quando se cria um filho para o enfrentamento da vida, e não para viver embaixo de nossas asas protetoras ciscando o fundo do quintal, é uma nobre forma de desprendimento. É egoísmo pensar apenas no coração combalido de saudade e não ensinar os filhos a voar, e voar bem alto. Temos de ter desprendimento também para com os nossos filhos, pois vida é um livro que não se deve paralisar no mesmo capítulo. Capítulo lido e vivido, a história continua, segue adiante a leitura e passe para o capítulo seguinte. Não podemos ficar repetindo os mesmo erros e persistindo em coisas que não nos leva a lugar algum. Temos dificuldade em nos desprender de alguém ou de alguma coisa. No fundo, na verdade, nós mesmos é que ficamos relutando para não querer perder algo que julgamos ser donos. É preciso, então, antes de tudo, desprender da gente mesmo, desvencilhar-se de nossos próprios medos. Por alguma razão, nós achamos difícil nos desprender do passado. Não que esteja dizendo que não há espaço para lembranças, visto que há lembranças boas de serem lembradas. O que não podemos é ficar vivendo o hoje no passado, se não o seu futuro será exatamente igual ao ontem. Também não se pode viver só no futuro, se não o hoje apenas passa por nós. O único modo de realmente ser feliz é se contentar com o presente, vivê-lo com intensidade, conectar-se com o momento que está vivendo. Quando a gente consegue se desprender, vivemos mais leves, com mais possibilidades de ser feliz, com menos ranços, menos cargas negativas. É preciso ainda se desprender dos medos, dos rancores, da timidez, da falta de coragem, do desânimo, da fofoca, das maldades cotidianas, de tanta coisa ruim. 

Desde quando nascemos é imposto sobre nós muitos dogmas, muitos costumes, muitas raízes fincadas que nos fazem permanecer estacionados. Tem hora que é preciso força para se livrar de tudo isso. Fazer uma análise interior e seguir em frente. Quando a gente consegue se desprender de coisas assim, não nos tornamos melhores que os outros, a gente se torna melhor que nós mesmos no passado: uma pessoa mais livre, menos atormentada, menos carregada de mágoas e ressentimentos.

É isso aí!

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