PACIÊNCIA
Um amigo me disse outro dia que na vida tem duas coisas importantes: beleza e paciência. Se der certo, beleza; se não der certo, paciência. Paciência é qualidade de quem persevera, possui resistência, sabe aguardar o tempo certo. Não basta o lavrador jogar a semente e pronto. As coisas não acontecem num passe de mágica. Há o tempo da espera, mas enquanto espera, prepara a terra, cuida da planta, trabalha e deixa vir o resultado. O ser paciente carrega um pouco de terra todos os dias sabendo que no fim terá uma montanha. Faz mais barulho uma árvore caindo que uma floresta inteira crescendo. Ela cresce no canto silencioso da paciência para se tornar poderosa, valiosa, crucial.
Ser paciente é saber ouvir e saber calar; é saber falar e se posicionar no momento certo; é saber engolir algumas coisas por entender que certas discussões não valem a pena. É ainda compreender que a raiva, a arrogância, pertence a quem sente e não precisamos pegar pra gente como se fossem parte de nós. Assim, tem coisa que parece extremamente destrutiva e assombrosa, mas que ao passar uma noite diminui de tamanho e se mostra perfeitamente passível de solução. É notório que há coisas que não dão para esperar. Aí, usamos a proatividade, o poder de antecipar aos problemas que certamente surgirão.
Fácil ter paciência com a dor do outro; difícil mesmo é quando é na própria pele. Aí, provamos nosso valor e nosso domínio da emoção. A paciência é um cobertor que faz tolerar o frio. Quanto mais aumenta o frio, mais grosso deve ser o cobertor, ou aumentar a quantidade. Assim, precisamos aumentar a paciência à medida da necessidade. Levar tudo a ferro e fogo só nos joga num abismo de ódio e impaciência e nos faz do tamanho, na medida, da mesma régua dos intolerantes. Por mais que possa não parecer, o paciente é um forte, pois tem força para tolerar as piores adversidades, perdoar o infortúnio, as injúrias e as maledicências. Desta forma, não há sabedoria sem paciência. O sábio sabe esperar, sabe aguardar o momento certo de agir, de falar. Sabe até se deve ou não agir. Sem paciência, movido por sentimentos ruins, como a raiva, colocamos os pés pelas mãos, falamos o que certamente nos levará ao arrependimento. Sem paciência não há plantio que vigore bem, não há canção bem cantada, não há poema bem escrito.
Somos rasuras de nós mesmos, escrita e reescrita tantas vezes. Tem hora que é preciso mudar a rota, refazer os planos, ou ter paciência para saber o tempo certo da colheita. Se colhermos o fruto antes da hora, perderemos todo o trabalho. Um momento de paciência pode evitar tanta coisa, tanto infortúnio. Um momento de ira ou impaciência pode colocar tudo a perder, provocar uma tragédia, arruinar uma vida toda. Nossa paciência poderá alcançar mais que nossa força desmedida e impetuosa.
A ansiedade, o desejo extremo por alguma coisa, pode levar à nossa derrocada. Essa ansiedade, esse medo das coisas darem errado, ocupa demais nossas mentes e nos faz mal. Devemos ocupar a mente com bons sentimentos e não despedaçá-la com maus pensamentos. Não há inimigo pior. Às vezes é duro ter de esperar. É um remédio amargo para a cura de muitos males. O remédio é amargo, mas a recompensa é doce. Trocando em miúdos, é preciso ter paciência com a gente mesmo, não somente com os outros. Tolerar a si próprio, amar-se, compreender o próprio valor. Permanecer triste, alimentar a tristeza, por si só, nada cura. O que cura o queijo é o tempo. O que cura a vida é a paciência. Falo da paciência de quem reconhece os próprios limites e sabe a hora certa de entrar em cena, de brilhar no espetáculo da vida. Vivemos em plena sofreguidão e temos pressa até na hora de nos alimentar. Temos de viver sem tanta pressa, julgar sem pressa, amar sem pressa. Paciência é a ciência da paz. Paz... ciência.
Paciência não é falta de interesse, não é desprezo. É sinal de sabedoria, de discernimento, de ponderação. A vida é um longo caminho e é preciso paciência para não nos perder dentro de nós e encontrar sempre a melhor saída e não nos perder de vista. Não nos precipitemos, controlemos a ansiedade. A esperança e o tempo, como irmãos da paciência, mandam dizer que haveremos de chegar lá.
É isso aí!
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