José Luiz
Palavras de
um ancião
“Como é que
chama aquele negócio mesmo? Podofolia? Pedofolia? Ah É! isso mesmo. Pedofilia.
Eu não entendo. Como tem gente pra fazer coisas dessas. Com criança. Eu vejo no
jornal. Todo dia fala disso. Todo dia. Quem não respeita criança, respeita o
quê? Eu vejo esses meninos na rua e fico com dó.
Tem muito
menino que os pais não cuidam, deixam solto, andando por aí, fazendo arte. No
meu tempo, não tinha disso, não. Desde pequeno, já tava era na roça.
Trabalhando. Pra poder comer. E se fazia bagunça, a cinta ardia no lombo. Meu
pai mesmo não tinha pena. Rezava terço de noite e batia na gente de dia se não
obedecesse ele. Teve uma vez, que eu nem lembro o quê que eu fiz direito, mas
ele me deu uma pancada na cabeça que eu dormi a tarde inteira. Se eu acho que
os pais de hoje em dia precisava de fazer isso? Uai, acho que não precisa
exagerar. Não precisa de bater, mas, vez em quando, tem que dá uma correção
nesses meninos. Moleque é coisa esperta. Se você não põe respeito, eles tomam
conta.
Nos meus
netos? Nunca encostei a mão. Só dou conselho. Falo toda vez: ‘Meu filho, tem
que estudar. Hoje, em dia, gente sem estudo não vale de nada.’ Eu nunca
estudei, mas meus filhos eu estudei todos, um por um. Suei, mas consegui. E
quando eu vejo que algum dos netos tá meio desacossoado, eu falo: ‘Faz sua
parte, que Deus cuida do resto’. Na vida, é tudo desse jeito. Deus não deixa a
gente cair. Mas, só se a gente cuida de
fazer o que precisa. Se não, não tem Deus que ajeite. O povo fica colocando a
culpa em Deus, eu fico bravo. Uai, se você não fez o que tinha de fazer, como é
que Deus ia resolver? Toda vez que um neto vem aqui, eu dou um dinheirinho. É
coisa pouca, mas deve de ajudar. Pelo menos pra tomar um sorvete com as
namoradinhas. E eles me dão orgulho, vez em quando, fazem umas besteiras, mas é
tudo menino bom. Chega a molhar os olhos quando eu lembro. Tem uns que tão
longe pra estudar, eu sei que eles tudo vão vencer na vida. Não sei nem se eu
vou ver isso, mas fico torcendo. É, o tempo passa sem nem a gente pensar.
Quando eu vi, tava aqui. Sem pai, sem mãe, sem mulher. Mas, vamos parar com
essa prosa que tá ficando triste. A gente começou falando de coisa importante e
acabou nessas bobeiras. Gente velha é que nem gente sem estudo: dá muito
trabalho.”
Crônica
escrita por Alexandre de Paula, em homenagem ao seu avô Jesus que, nesse mês
completa 77 anos de vida.
É isso aí!
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