José Luiz

17:34 José Luiz 0 Comments

Jornada


Foi de fato uma noite emocionante. Andores cercados por crianças vestidas de anjo; grupos que bailavam ao som dos tambores, com seus versos sentidos, em meio aos alaridos do público; menino batendo com energia a botina no tablado fazendo ressoar um ritmo delirante; causos contados com originalidade; saltos mirabolantes no gingado da capoeira. Nas salas de exposição, crianças agitadas se assossegavam fazendo crochê, expondo pinturas, tecendo tapetes e cachecóis. Tanta emoção fez brotar lágrimas. Gente saudosa de um tempo que pôde ser relembrado, junto com gente feliz por conhecer uma arte escondida. Ao final, o apoteótico espetáculo com uma dupla de cegos maravilhosos, Vander e Vandeir, que rebuscou no fundo do baú as melhores modas do cancioneiro popular, de Cabocla Tereza ao Cio da Terra.

Essa festa singular aconteceu na comunidade de Aparecida de Minas, na escola municipal, com o envolvimento de todos os servidores daquele estabelecimento, de professores a serviçais. Deu gosto de ver. Foi a participação de Frutal na Jornada Mineira do Patrimônio Cultural. Algumas centenas de privilegiados saíram dali em êxtase, com a alma cheia, o coração abastecido da legítima cultura. D. Zulmira, com sua mão enfaixada, era puro brilho no olhar. O Zarur, do Sicoob, contou seu causo e permaneceu por ali, não arredando o pé, ficando até o finalzinho. D. Zilda do Dóro comentou que aquilo era festa para televisão. Já o Sr. Moacir, com os olhos avermelhados, disse que o mais bonito era ver as crianças aproveitando e aprendendo com aquele momento. A professora Valquíra, já rouca e não cabendo em si, agradecia a todos pela singular apresentação.

Realmente, foi inesquecível. A simplicidade da decoração feita com chitão e folhas de bacuri ilustrava bem que as coisas para serem belas precisam de muito pouco. Às vezes, é só dar vazão à alma popular, aos costumes de nossa gente. Foi uma catarse cultural, um banho de povo, de nossas raízes. Obrigado a todos os atores que participaram deste enredo tão belo. Tenham certeza: nunca deixará minha mente este momento tão singelo e especial.

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José Luiz

22:47 José Luiz 0 Comments

SORRISO QUE COBRE O MUNDO

Diga-me uma coisa: o que há de mais belo que o gargalhar de um bebê? Imagine os sons, a imagem daquela boquinha sem dentes, os olhinhos miúdos se fechando num sorriso que cobre o mundo. Impressões aparentemente triviais, comuns, cotidianas, trazem frescor às relações, colorem a vida, arejam os espíritos. Nada burila mais nossa alma que uma singela e bucólica cena de convívio familiar. É o que move o mundo. A energia motriz que impulsiona, faz as pessoas acreditarem, trabalharem, persistirem na labuta, é a sagrada relação familiar. Força que dinamiza, que faz com que as pessoas tenham por que lutar, produz sentido absoluto em nossas vidas. Uma criança que nasce é a esperança de que a humanidade ainda tem jeito, é a prova de que o Criador ainda persiste na confiança no ser humano, apesar das atrocidades que o homem comete, das barbáries, das injustiças. Dentro de cada ser, mora uma criança cheia de alegria, de pureza de intenções, de ausência de malícias; aquela mesma criança que deixamos escondida ao longo dos anos; aquele menino ou menina que fomos que sorria com a lagartixa, que pulava no colo da mãe, que dava flores à professora, ainda deixa resquícios dentro de nós, fagulhas de sua existência teimam em não se apagar. Deveríamos resgatá-la, fazê-la florescer, vir à tona. Hoje, cheios de si, deixamos adormecida esta criança que nos faz gente melhor.

Conviver em família é privilégio demais. Saboreemos este presente primoroso. Passamos naturalmente por contrariedades, o que é próprio do convívio de diferentes, pois, por mais que nos amemos, somos cada qual uma obra exclusiva, irrepetível, com pensamentos e desejos distintos. Como pais, temos que ter posições ternas, porém firmes, que o nosso “não” seja “não” e nosso “sim” seja cumprido. No fim - no meio, no começo - a relação de amor compensa tudo. A cumplicidade voluntária, a entrega total e irrestrita, deixa a família em primeiro estágio nos degraus dos afetos. Usufruamos com sabedoria este dom.

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José Luiz

09:54 José Luiz 1 Comments

LENHA PARA QUEIMAR

Gosto desta coisa do brasileiro nunca desistir. Deixar as coisas pelo meio, desanimar antes de chegar ao fim, parece um negócio meio deprimente, próprio de quem não tem confia em seu poder de superar dificuldades. Esmorecer perante os primeiros obstáculos faz a vida se tornar um marasmo, uma estação abandonada, um trem sem combustível, sem lenha para queimar. Já disse aqui um dia que existem aqueles que, quando começam a trabalhar, já começam a contar os dias que faltam para a publicação da aposentadoria. E quando se afastam, aposentam-se da vida. Caem no ostracismo, na melancólica e sórdida função de nada fazer. Ser humano é ente criativo, foi feito para viver produzindo. Mesmo depois de jubilado, pode manter a mente na ativa, realizar mais e melhor em outras funções. É tempo para estudar, fazer aquele curso, elaborar aquele plano, ficar mais próximo dos próximos.

Não podemos nos entregar a uma fileira de problemas que se acumulam ao longo da vida. Eles – os problemas – sempre existirão. São matéria prima e primeira da vida. O bom disto tudo é que, depois de superada a dificuldade, sabemos que temos força para levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. É raiz, é basilar, faz parte de nosso jeito brasileiro de ser. Veja que paradoxo. O sujeito junta a família em sua casa simples, assa um churrasco em uma roda velha de caminhão, colocada sobre uma armação qualquer, regado a cotuba e outras bebidas mais baratinhas, e todo mundo se ajeita, fica feliz, celebram por estarem juntos e pronto. Não ficam a lamuriar as ausências, a falta do luxo. Para eles, não é preciso muito para derramar sorrisos e gargalhadas. Penso ser uma das mais belas características nacionais o fato dessa gente não permitir que a família se junte somente em velório. Reúnem os irmãos, dão umas sacudidelas no comodismo, dividem as despesas e vão à luta. Acreditam seriamente que a vida é uma viagem e que no percurso podemos tirar tempo para ser um pouco mais felizes.

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José Luiz

09:57 José Luiz 0 Comments

CULTURA POPULAR

Quando se vê uma apresentação de um grupo de Catira ou de Congada, uma Folia de Reis, e até mesmo Capoeira, logo aparece alguém que torce o nariz, dizendo não gostar de coisas antigas, de manifestações populares. Talvez ajam assim por desconhecimento da importância destes conjuntos folclóricos na composição do tecido cultural de nossa gente. Ouvir os cantos, apreciar os passos, o balanço, o ritmo, o figurino colorido, as fitas, compondo um quadro pitoresco, barroco, nacional, faz-nos sentir mais brasileiros, intensos, ligados umbilicalmente às nossas raízes mais puras e firmes. Pense nos palhaços da festa de Reis, com suas espadas de madeira; na família real da Congada, com suas vestes brancas apinhadas de detalhes de todas as cores; nas batidas ritmadas das botinas gastas no velho catira; nas cantigas que moram somente nas cabeças dos integrantes que passam de pai para filho. Pense nas rezas, nas benzedeiras, na folha de arruda que tira o quebranto, nos costumes de um povo cheio de fé. São memórias que precisam ser preservadas. É cultura popular, são traços de uma nação multifacetada, plural, rica, única.

Nosso povo é cheio de arte, de expressões que contam sua história, sua formação, suas influências, suas origens. Ignorar essas manifestações seria renegar o próprio passado. É urgente dar luz a estes grupos, criar condições para que se apresentem, fazer com que nossas crianças conheçam e, fundamentalmente, compreendam a dimensão dessa riqueza, para que essas dignas demonstrações populares possam ser eternizadas, passadas adiante. Prestigiar os grupos folclóricos é um jeito próprio de valorizar nossa cultura, os contornos que formam a face de nossa gente. É necessário lançar um olhar sem os ranços escuros do preconceito. Creiam, há uma beleza distinta, especial, peculiar, em cada elemento que forma a arte popular. É só observar direito.

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José Luiz

11:15 José Luiz 1 Comments

CONFIANÇA

Tem dias que me pego observando o fervor de algumas pessoas. Impressiona-me a fé, o ardor com que se entregam a um propósito, a confiança na intervenção de um ente superior, divino. Pessoas em estado terminal, em situações de altíssimo risco, apegam-se, por vezes, a uma linha tênue, que ampara suas vidas, dá alento, esperança, conforto. Os que têm fé, confiam apenas. Não ficam a contestar a ausência do milagre quando da necessidade mais extrema. Entendem, pacificam o coração, compreendem que todos somos passageiros de um comboio que tem parada na estação final. Utilizam com abundância de eufemismos e amenidades. Acreditam que, quando partimos desta para melhor, é porque o Criador nos quer perto dele. Felicíssimo argumento, porque depois do aparente fim, na verdade, somos alimento da terra, energia que se junta a um magnífico sistema celestial. Coisa de doido, diriam alguns.

Esta fé que mobiliza o homem, que acalenta o peito, que instiga a procurar ser melhor é razão da humanidade ainda persistir na trilha, não desviar a rota, prosseguir apesar das adversidades. Lembrem-se da mãe que clama pelo filho que partiu, o filho que chora no leito da mãe implorando pela cura, aqueles que vão pelo mundo no ideal de evangelizar, tocados pela fé. É bonito saber que a fé produz aproximações, nem sempre divisões e que crer é tornar-se um pouco parte da grande força, é aquietar-se no colo de Deus, é tê-lo como companhia adorável.

Enche meu peito o exemplo dos homens e mulheres de fé. Comove, arrepia ver as lágrimas de esperança, a procissão, a oração da gente que sofre e sabe ainda agradecer. Quando a dor fala mais alto e a voz embarga, até mesmo gemidos, sussurros, tornam-se diálogos com o Criador. Nesta hora, as cinzas tomam forma e o ser magistral que existe dentro de cada um pode renascer, ressurgir. Fé na vida, fé no homem, fé no que virá!

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