O PODER DA VOZ: SUAVIDADE E ASPEREZA NA ARTE DE FALAR.


 

PROVOCAR DOR E TRISTEZA NÃO TEM A MENOR GRAÇA!

Piada que faz doer não tem graça nenhuma! Quantas vezes a gente já não viu alguém se esconder atrás do argumento de que era só uma brincadeira para disfarçar aquela maldade disfarçada de gracejo? Tem gente que acha que zombar dos outros, expor fragilidades, ridicularizar características físicas ou até mesmo humilhar alguém publicamente é "só humor". Mas qual a graça em causar sofrimento por meio da pilhéria que expõe a dor do outro?

O verdadeiro humor não precisa de crueldade pra fazer rir. Ele é inteligente, criativo, une as pessoas em vez de dividir. Agora, quando a "piada" depende de rebaixar alguém, ofender, machucar, definitivamente, isso não pode ser chamado de humor, é puro preconceito vestido de falsa descontração.

Esse papo furado de "liberdade de expressão" para justificar ofensas não convence de forma alguma. Liberdade não é sinônimo de licença pra ser cruel. Você pode falar o que quiser, mas também deve arcar com as consequências do que diz. E, convenhamos, quem precisa humilhar os outros pra se sentir engraçado está precisando rever não só o repertório, mas também o caráter. 

Humor de verdade diverte sem ferir, alegra sem oprimir, e, acima de tudo, respeita a dignidade de cada um. Porque no fim das contas, rir com alguém sempre será muito melhor que rir de alguém.  

Reflitam comigo e fiquem à vontade para esparramar. E, como sempre, bom humor pra todos!  

Um abraço feliz do professor

 

CRÔNICA DO COTIDIANO DE UM PROFESSOR - A ÁRVORE CAÍDA E O CORAÇÃO EM PÉ


Era 5 de junho, Dia do Meio Ambiente. A sala de aula, envolta no frio cortante da manhã de inverno, parecia convidar mais ao recolhimento do que à algazarra costumeira. Os alunos, agasalhados (alguns, exóticos, insistiam em embrulhar-se em cobertores finos), respiravam aquele ar úmido que precede a geada, enquanto eu tentava, como de hábito, transformar a data em algo mais que um mero lembrete no calendário. 

— Meio ambiente não é só floresta, não é só bicho, não é só o que está longe — eu dizia, observando os olhares dispersos pelas janelas. Foi então que um menino quieto, ali daquele 8º ano, ergueu a mão com timidez, mas com uma voz embargada e firme: 

— Professor, ontem derrubaram um jatobá gigante na fazenda onde meus pais trabalham. Tinha mais de cem anos, eu tenho certeza, pelo que meus avós contavam. 

A sala silenciou. Não por educação, mas porque algo naquele relato cortara o ritmo mecânico da manhã. O aluno não chorou, mas seus olhos brilhavam úmidos, e suas mãos, encolhidas sobre a mesa, tremiam levemente. Confesso que, ao ouvi-lo, veio-me um desejo enorme de deixar as lágrimas caírem. Doeu na alma saber que um ser vivo centenário fora abatido pela sanha do capital. 

— E aí, o que fizeram com a árvore?— perguntei ao aluno. 

— Serrada. Virou lenha, eu acho. O patrão mandou cortar porque atrapalhava o plantio da soja. 

Houve um murmúrio. Alguns reviraram os olhos, como se aquilo fosse um completo exagero. Outros baixaram a cabeça, talvez rememorando histórias semelhantes. O frio lá fora parecia ter invadido a sala, ou talvez fosse o peso daquela imagem: um jatobá centenário no chão, suas raízes arrancadas da terra como memórias apagadas. 

— E o que você sentiu quando viu a árvore derrubada? — perguntei, abandonando o plano de aula, o roteiro pré-estabelecido. 

Ele hesitou, mas então falou: 

— Parecia que tinham matado um velhinho, daqueles que contam histórias. A gente brincava debaixo dela, os pássaros faziam ninhos... Agora é só um toco que, em breve, vão arrancar. 

Aproveitei o silêncio que se seguiu para propor uma produção de texto. Tentei inspirá-los, lembrando que aquela árvore fora sombra que refrescava o gado no verão, que suas folhas viravam fertilizante natural para o solo, que seu tronco sustentara cordas de balanço e, agora, se tornara apenas um empecilho ao lucro. 

Os cadernos se abriram, mas não houve o habitual resmungo sobre o tema difícil. Dali, brotaram textos belos. Simples, considerando a tenra idade daqueles meninos e meninas, mas profundos como quem compreendera a magnitude do momento. 

Ao lê-los, fiquei pensando: se todos pudessem chorar por uma árvore derrubada, o mundo não estaria tão devastado. Se todos vissem nela mais que madeira — história, abrigo, vida... 

Aquele menino permitira, por meio de um estalo pedagógico (que alguns chamariam de “insight”), uma reflexão que nos ensinou: às vezes, é preciso um coração partido para despertar outros. Como diria Drummond, "preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças". E nós, professores, precisamos estar atentos a esses ricos momentos de aprendizagem que, por vezes, valem mais do que planejamentos curriculares estáticos, enrijecidos e engessados. Não podemos deixar que a rigidez das orientações estanques sufoquem esses momentos espontâneos de ensino. Afinal, estudantes não são meros receptáculos de conteúdo, mas seres em crescimento: flexíveis, ávidos por conhecimento e transformação. A escola não é uma prisão de grades invisíveis, mas um território onde mentes podem voar, sonhar, questionar e, assim, verdadeiramente florescer, pois educar é cultivar e não enjaular. A escola deve ser asas, não correntes que impedem o voo, nem muros que atravancam o crescimento. Educação é cuidar da vida, é arte, é poesia.